sábado, 26 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 – Considerações finais


 Série: TV Ceará, Canal 2 – Considerações finais

Por João Ribeiro da Silva Neto

Foi muito gratificante e prazeroso relembrar a época da TV Ceará Canal 2, da rede Tupi de Televisão, que permaneceu no ar de 1960 a 1980, com ênfase para os programas Show do Mercantil e Studio 2, menções aos amigos, artistas (todos que integram o Pessoal do Ceará), técnicos, suítes, câmeras e todos aqueles que estiveram conosco juntos nessa jornada. Tudo isso foi especialmente marcante em minha vida musical, com o nosso saudoso Conjunto Big Brasa. Foi como se vivesse novamente com todos aqueles, os apresentadores, o pessoal das produções dos programas, técnicos, calouros e artistas cearenses e de outros Estados que participaram desta época inesquecível entre os anos 1970 e 1977. Na sequência serão postadas muitas fotografias referentes aos diversos capítulos, que serão agrupados e transformados em mais um livro.

Conjunto Big Brasa na Wikipédia


“O Big Brasa foi um conjunto musical brasileiro ativo nas décadas de 1960 e 1970 durante a fase da Jovem Guarda. Está presente também na Wikipedia. O grupo formou-se no bairro de Messejana, em Fortaleza (Ceará) e seus integrantes na formação que marcou presença na TV Ceará foram: Lucius Maia, Severino Tavares, João Ribeiro, Adalberto Lima e Edson Girão. “O início da banda deu-se em 1967 e esta permaneceu ativa até 1978. O conjunto musical Big Brasa foi muito popular entre os fortalezenses, principalmente através dos programas Show do Mercantil, semanal, e diário Studio 2, que eram exibidos pela extinta TV Ceará, da Rede Tupi de Televisão. Atuou também em diversos estados nordestinos e em todo o interior do Ceará. O Conjunto Musical Big Brasa acompanhou vários artistas do Pessoal do Ceará, tais como Ednardo e Belchior dentre outros.”

 

(*) João Ribeiro da Silva Neto é servidor público federal aposentado, tendo servido na Área de Inteligência do governo federal como Analista de Informações (Oficial de Inteligência). É atualmente diretor do Instituto Portal Messejana, entidade de utilidade pública, analista de fatos e editorialista. Escreve também para o Blog do João Ribeiro e mantém presença nas diversas redes sociais com a página do Conjunto Musical Big Brasa. No início de 2020 gravou o Álbum Momentos, com canções de sua autoria, inéditas, muitas compostas há quarenta anos. Essas músicas foram distribuídas pelo Proaudio Studio nas principais mídias musicais, dentre eles o Spotify, Deezer etc.      

Notaesta série tem os créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto, (Beiró) e está disponível para publicações autorizadas pelo autor. As fotografias também pertencem ao acervo do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. Abaixo alguns links onde também está publicada.


Conjunto Big Brasa – https://www.facebook.com/conjuntobigbrasa  

Blog do João Ribeiro - http://silvanetojr.blogspot.com/

Instituto Portal Messejana - http://www.portalmessejana.com.br/

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 – Capítulo IX - O Programa “Studio 2”

             


Programa “Studio 2”

Programa de muita audiência da TV Ceará Canal 2, no qual o Conjunto Big Brasa se apresentou por mais de três anos. Levado ao ar diariamente, o programa abordava, através de entrevistas, temas diversos, dirigidos principalmente às mulheres. Diversos artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras personalidades de destaque que participaram do “Studio 2”. 

Dentre os artistas que lembro, a Dercy Gonçalves, sempre irreverente e alegre, com as brincadeiras de sempre, mas com bem menos palavrões, tendo em vista a censura existente naquele período. O famoso músico Zé Menezes, que deu um verdadeiro show, também foi acompanhado com muita honra pelo Conjunto Big Brasa. No dia em que esteve no programa ele usou a minha guitarra para executar alguns solos e improvisos. Ambos não estão mais fisicamente conosco. Na foto ao lado eu estou no Studio 2 utilizando o inseparável pedal de efeitos "wah-wah" e distorção, que me acompanharia em todos os eventos. 

Às vezes a contra-regra produzia um cenário um pouquinho melhor do que as simples cortinas e tapadeiras, que eram divisórias de compensado para encobrir um ou outro defeito do cenário. Colocavam mesas e cadeiras como num bar, com plateia e o ambiente ficava mais alegre e descontraído.  A luta do pessoal do estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio daqueles que não estavam em cena, para não atrapalhar o programa, realizado ao vivo.

Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental no amplo estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Studio 2”. Esse material era levado para casa apenas para os ensaios do conjunto. Para nós, músicos e o restante do pessoal que ali trabalhava, o horário se tornava complicado. De Messejana eu saía em nosso jipe 51, com o Adalberto, mais ou menos às 11 horas, de segunda a sexta-feira, para sempre chegar a tempo. Nunca deixamos de cumprir esse horário, certinho.

Nós sempre achamos que o som gerado pelo Studio 2 sempre foi melhor que o do Show do Mercantil. Deve-se isso, com certeza, aos operadores de áudio, aos bons microfones e principalmente pela própria acústica do ambiente, que nos favorecia.  

No estúdio a distribuição se fazia com uma “girafa”, que para quem não sabia é um suporte bem grande, na forma de um guindaste, que podia movimentar o microfone por cima de todo mundo, captando bom o som de cada cena. A girafa ficava por cima de todo o conjunto e captava o que fosse possível.

Havia também os microfones de lapela e os “varacionais”, explico: como a TV não possuía microfones direcionais, aqueles que captam bem o som em uma determinada direção, o pessoal da equipe técnica adaptava um microfone comum, forrado com esponjas, a uma vara ou haste de metal ou madeira. Por causa dessa improvisação, ficaram conhecidos por nós como os microfones “varacionais”.

Os câmeras-men procuravam “detalhes” em todos os lugares que podiam para ser mais criativos. Lembro-me muito bem do William (“Irmão”), do Fred e do Zé Lenir, o mais calmo deles e que às vezes “me emprestava à câmera para eu focalizar algumas imagens, nos momentos em que não estávamos no ar. O Irmão e o Fred se destacavam como bons profissionais. Na verdade eles eram muito bons mesmo. O Fred, bastante dinâmico, se deslocava rapidamente para conseguir os melhores ângulos para as imagens que o suíte (diretor de imagens) solicitava. Por falar em “suíte”, os dois diretores de imagens que mais trabalhavam naquele tempo nos programas em que o Big Brasa participava eram o Dedeco (Aderson Maia) e o Gonzalez, este principalmente no Studio 2.

Bem, eles nos colocavam “no ar” diversas vezes sem estarmos tocando, em qualquer posição em que estivéssemos de preferência quando a gente não notava que seria focalizado. Em uma brincadeira sem pensar, numa dessas vezes que os câmeras ficavam procurando o que mostrar pelo estúdio o Fred ficou me focalizando um tempão e eu, agachado, que estava prestando atenção ao que estava sendo exibido no programa, não notei. Deu sorte porque minha imagem não tinha ido ainda ao ar. Quando notei o Fred tentando me enquadrar, num ato impulsivo e de pura brincadeira, “dei o dedo” para a câmera. Resultado: depois do programa o Gonzalez desceu da Engenharia, como chamávamos, e me deu uma boa chamada, dizendo ele que quase tinha apertado no botão que levaria aquele gesto para todos os cearenses. E assim somente agora vocês ficam sabendo.

O conjunto fazia em média dois ou três números por programa. No decorrer dessa temporada a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme, por aparecer diariamente na TV. As músicas quase sempre eram sucessos do momento, cantadas pelo Edson ou pelo Lucius. Tocávamos temas de improviso e blues, ocasiões em que eu aproveitava para tirar sons de todas as maneiras que sabia na guitarra, fato que contribuiu para minha relativa projeção como guitarrista-solo em Fortaleza.

Conseguimos uma boa legião de fãs espalhadas pelo interior do Estado. Todos os dias recebíamos cartas e mais cartas. Umas eram dirigidas ao Conjunto Big Brasa, de um modo geral e outras eram destinadas aos músicos, em particular. Acho que os campeões de correspondência eram o Edson Girão e o Lucius Maia.

Ainda hoje mantenho quase todas as cartas que recebi. Muitas delas com fotos e até declarações apaixonadas ou amorosas, com muito carinho e afeto da parte daquelas fãs. Sentia um prazer enorme ao receber cada cartinha daquelas. Andei respondendo muitas, pessoalmente. Depois, pela falta de tempo, contratamos uma amiga que respondia tudo por nós. Tive que fazer uma fotografia minha ao lado do caminhão de transmissões externas do Canal 2 e distribuí mil cópias para o fã-clube do conjunto no interior do Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas cartas bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória.

Ainda sobre fotografias do conjunto, é bom contar que aproveitamos a cena um dia, quando uma pessoa estacionou com um automóvel conversível “Lorena”, em frente ao Canal 2, para resolver algum assunto de seu interesse. Como estávamos aguardando o horário do Estúdio 2 entrar “no ar” chamamos rapidamente o fotógrafo da televisão e fizemos uma pose junto ao tal carro. Foram feitas centenas de fotos e enviadas também para o interior. Isso certamente contribuiu para nossa imagem de conjunto “rico”, mas com o carro dos outros...

Tínhamos que inventar novidades. Eu às vezes até abusava dos pedais (distorção e "wah-wah") e brincava com os operadores de câmeras que se aproximavam demais de minha guitarra no intuito de mostrar minha aliança para as fãs do interior.

De tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo, contra-regras, operadores de microfone, os próprios câmeras-men, a gente se divertia muito. Eu não perdia nenhuma oportunidade de improvisar sobre os temas das músicas que tocávamos. Era uma boa forma de exercitar e também de mostrar para o Ceará inteiro nossas habilidades.

Entrevista do Conjunto Big Brasa para fãs

No entanto um dia o produtor do programa resolveu abrir mais um espaço para uma entrevista com o conjunto, a pedido das fãs. O entrevistador foi o Flávio Torres. Dirigiu perguntas principalmente para o Lucius Maia e para mim sobre nossa atuação em Fortaleza, quis saber se respondíamos as cartas do pessoal, enfim um bocado de coisas. Fiquei, como sempre, um pouco nervoso ao ser entrevistado. Senti que o sangue me fugiu e que deveria estar muito pálido. Mas felizmente a TV ainda era em preto e branco... Na foto que temos desta entrevista também aparece a atriz de novelas e apresentadora Karla Peixoto, da TV Ceará.

Nota sobre o Conjunto Big Brasa na Wikipédia

“O Big Brasa foi um conjunto musical brasileiro ativo nas décadas de 1960 e 1970 durante a fase da Jovem Guarda. O grupo formou-se no bairro de Messejana, em Fortaleza (Ceará) e seus integrantes fundadores eram: Lucius Maia, Severino Tavares, João Ribeiro, Adalberto Lima, Edson Girão e Luís Antônio Alencar”.

“O início da banda deu-se em 1967 e esta permaneceu ativa até 1978. O conjunto musical Big Brasa foi muito popular entre os fortalezenses, principalmente através dos programas Show do Mercantil, semanal, e diário Studio 2, que eram exibidos pela extinta TV Ceará, da Rede Tupi de Televisão. Atuou também em diversos estados nordestinos e em todo o interior do Ceará. O Conjunto Musical Big Brasa acompanhou vários artistas do Pessoal do Ceará, tais como Ednardo e Belchior dentre outros.”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VIII - O Programa “Show do Mercantil” (Parte 2)


Seleção de calouros para o Show do Mercantil

A participação musical do Big Brasa no Show do Mercantil iniciava às noites das quartas-feiras, quando eu, na qualidade de produtor musical, fazia uma seleção de calouros para se apresentar no programa seguinte. Tudo funcionava assim: no auditório da TV Ceará os candidatos chegavam cedo. Eu iniciava o ensaio por volta das 20:00 horas. Ao piano, no palco, chamava os calouros por ordem de chegada e pela relação de inscritos chamava um a um e perguntava-lhe que música que gostaria de ensaiar. Depois do acompanhamento de cada candidato, fazia algumas anotações para escolher os melhores ao final. Tive que enfrentar alguns problemas como é normal entre calouros, como alguns desafinados ou sem ritmo ou ainda os dois. Eu os instruía, na medida do possível. Em cada ensaio eu ouvia em média trinta candidatos para escolher apenas quatro, estes que ensaiariam na sexta-feira com todo o conjunto. O trabalho era cansativo. Às vezes a escolha ficava difícil e eu tinha que escalar os melhores para o Show do Mercantil.

Na imagem o Conjunto Big Brasa, da esquerda para a direita com Severino Tavares, João Ribeiro, Lucius Maia e Edson Girão,acompanha um calouro mirim no programa. 



A dupla Lena e Leda

A dupla Lena e Leda foi descoberta em Fortaleza, Ceará, durante o programa Show do Mercantil! As meninas iniciaram suas apresentações após terem sido selecionadas pelo então produtor musical do programa João Ribeiro (Beiró), líder e guitarrista-solo do Conjunto Musical Big Brasa. Foram muitas as apresentações e a dupla fez muito sucesso ainda em Fortaleza. As meninas ensaiaram várias vezes e se apresentaram no programa Show do Mercantil de forma brilhante. Eu ficava satisfeito quando as via relacionadas para o ensaio porque seria muito bom. Elas cantavam muito bem, sempre graciosas e muito bem educadas. Fiquei emocionado uma das vezes em que a Leda, que não mais está fisicamente junto a nós, agradeceu ao final do ensaio e pediu para me dar um beijo! Inesquecível momento e a ternura de duas crianças. A Lena, depois, foi para São Paulo e se tornou a conhecida Miss Lene (*), com muita fama.

* Miss Lene é o nome artístico de Frankislene Ribeiro Freitas, uma cantora cearense. A cantora cearense Frankislene, ficou conhecida como Miss Lene. Foi lançada pela CBS em 1978 e fez sucesso com as músicas "Quem É Ele?" e "Deixa Música Tocar". Fonte – Wikipédia. 

Maria Zenaide

Também criança fez parte com inúmeras apresentações no Show do Mercantil. Sempre teve um dom musical e não dava nenhum trabalho nos ensaios. Com sua voz bonita, firme e bem afinada, Maria Zenaide se apresentou também na inauguração do Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza, com o programa Show do Mercantil sendo apresentado do próprio Ginásio em uma brilhante apresentação. 

Artistas que o Conjunto Big Brasa acompanhou na TV Ceará

Vários foram os artistas de projeção nacional que o Conjunto Big Brasa acompanhou. Foram seis anos e meio, com atrações todos os sábados e em muitos desses programas cantores de fora, quase sempre vindos do sul do País.

A seguir estão listados alguns deles, em ordem alfabética: Adriano (Francisco de Assis), Carlos Imperial, Belchior, Cauby Peixoto, Cláudia Barroso, Demétrius, Dóris Monteiro, Ednardo, Jorge Melo, Luiz Vieira, Sérgio Sá, Mardônio, José Orlando, Márcio Greick, Pablo Sebastian, Rodger, Sandra, Wanderley Cardoso, dentre outros.

O Pessoal do Ceará

Com alguns representantes do chamado Pessoal do Ceará, como o grupo se tornou conhecido nacionalmente, tivemos encontros frequentes, como Ednardo e Belchior, que ensaiaram muitas vezes tanto na TV Ceará, quanto na sede de nosso Conjunto Big Brasa, em Messejana, sempre muito bem recebidos pelos meus saudosos pais Alberto Ribeiro e Dona Zisile, que era também a “mãe da Família Big Brasa”, como todos a consideravam, pelo carinho que tinha conosco.

Belchior com sua simplicidade e gentileza fez todos os ensaios para a inauguração do Paulo Sarasate na sede do Big Brasa, sempre recebido por nós com muito carinho. Tornou-se amigo do Big Brasa e também de meus saudosos pais Alberto e Zisile, vindo posteriormente encontrá-los em uma festa em Balsas, Maranhão, onde após o terminado o show os reconheceu e muito gentilmente foi cumprimentá-los como se fossem os pais dele. Na TV Ceará foram inúmeros os encontros para ensaios. Belchior sempre ficava entusiasmado com os “riffs” que eu procurava acrescentar em suas músicas para melhorar os arranjos e assim nossa relação era excelente. 

Ednardo Sousa - com o Ednardo tivemos um convívio muito grande, tanto em shows, viagens com a equipe da TV Ceará, quanto em preparação para festivais em Fortaleza. O nosso Conjunto Big Brasa, como foi mencionado, foi visualizado e contratado pelo apresentador Augusto Borges em uma final de festival realizada no Náutico Atlético Cearense. Para a música Beira-Mar produzi alguns efeitos na harmonia, com o pedal “wah-wah” e uso de distorção bem suave, que se assemelhava ao som de violinos. Com Ednardo nossa relação era bastante cordial. Foram também muitos dias de ensaio, na sede de nosso Conjunto Big Brasa para os festivais e também para uma série de shows que o acompanhamos, em Teresina, São Luís, Manaus e Fortaleza, no Theatro José de Alencar, em 1976. Nestes shows eu tocava viola, guitarra e flauta. As participações eram muitas nas músicas, tanto que copiei todos os solos e arranjos em partitura para que não os esquecesse. Temos uma fotografia em nosso acervo, com o Conjunto Big Brasa e orquestra acompanhando o Ednardo em Recife, divulgada em reportagem de três páginas na extinta Revista O Cruzeiro.

Rodger (Rodger Franco de Rogério), Téti e Petrúcio Maia, também estão incluídos no que considero também da família Big Brasa, pelo nosso excelente relacionamento. Com eles participamos de diversos ensaios no auditório da TV Ceará, em preparação para os programas daquela emissora.  

Nosso encontro com o “Rei do Baião”

Em uma das tardes de sábado, o Big Brasa estava cumprindo função no Show do Mercantil. Com o auditório praticamente lotado, o programa naquele dia apresentaria muitas atrações.

A produção musical, de minha responsabilidade, tinha preparado alguns novos cantores da terra extraídos da seleção de calouros. Além disso apresentaria o próprio quadro de calouros e alguns números do Big Brasa, músicas de sucesso recentemente ensaiadas. Nessa época, havia um quadro chamado “Fora de Série”, no qual se apresentavam mágicos, malabaristas, contorcionistas, enfim, todas as pessoas que faziam alguma coisa diferente, motivo de atração. Esse quadro permaneceu no ar por muito tempo e tivemos a oportunidade de presenciar várias cenas ou atrações super interessantes. Para aquele dia, a produção do programa, através de diversas “chamadas” - pequenos comerciais do programa exibidos durante a programação durante a semana - tinha anunciado uma grande surpresa para o público.

No início do programa, o Augusto Borges adiantou a atração, que seria o famoso compositor e músico Luiz Gonzaga, nada menos do que o “Rei do Baião”, como ficou conhecido internacionalmente. Durante os intervalos, de pequena duração, a gente saía um pouco do nosso palco, que ficava na lateral do cenário principal, para conversar com o pessoal da produção e outros colegas, na ante-sala do programa, bastante movimentada. Nesse dia, estávamos também querendo ver, de perto, o “Rei do Baião”. Em uma dessas saídas, nos deparamos com o próprio Luiz Gonzaga, na ante-sala com sua sanfona, calmamente aguardando a vez de sua apresentação. E nós todos cumprimentamos o famoso Rei do Baião, com muita satisfação por mais aquele encontro com gente famosa. Naquele momento, o Luiz Gonzaga deixou a impressão, para mim, de ser um artista extremamente simples e simpático, além naturalmente de tudo aquilo que produziu em seu inestimável legado musical.

Presença de Roberto Carlos e de Eduardo Araújo

Na TV Ceará, convidado pelo Show do Mercantil, tivemos a oportunidade de ver o Roberto Carlos, que se apresentou no programa com o seu RC7, um conjunto musical magnífico. Além dele o Eduardo Araújo e sua esposa Silvinha, também com seu acompanhamento particular de uma excelente banda musical.

Shows em Parnaíba com a equipe da TV Ceará

Participamos duas vezes de shows e festas em Parnaíba, Piauí, com a equipe dos programas da TV Ceará, com o Ednardo Sousa mais um show e apenas com o nosso Big Brasa em outras oportunidades. As viagens, em ônibus fretados, eram muito divertidas, pois estavam presentes muitos artistas, apresentadores e funcionários da TV Ceará. O Antonio Mendes (Toinho), presente em uma dessas viagens, era uma figura espetacular, por suas brincadeiras e sua interação com todos da equipe.

A repercussão do Show do Mercantil no interior do Estado

Se em Fortaleza a televisão divulgava o Conjunto Big Brasa suficientemente, no interior a penetração da TV Ceará era intensa, a divulgação era enorme. No início era a única emissora do Estado. E por isso mesmo durante dez anos sua imagem se propagava pelo interior do Estado, através de repetidoras de sinal.

Imaginem: nos anos de 1970, um conjunto que aparecia todos os sábados num programa de audiência total no interior, visto que a EMBRATEL ainda não possibilitava transmissões do Sul do país. Quando o Conjunto Big Brasa chegava a qualquer cidade interiorana, obtinha enorme repercussão. Em muitos municípios fomos recebidos com faixas de boas-vindas na frente dos clubes! A rapaziada local ficava com um ciúme danado por que suas paqueras e namoradas se voltavam para nós, tudo muito natural, por ser novidade...

Foi nesse esquema que praticamente se desenrolou a bem sucedida etapa televisiva do Big Brasa, cujos episódios serão motivo de diversos enfoques nesses registros.

Esta série continua no Capítulo IX com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará, contendo o seguinte tópico:

- Programa “Studio 2”

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VII O Programa “Show do Mercantil” (Parte I)

                   


O Programa Show do Mercantil

O Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados, pela extinta TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi de Televisão, sempre apresentava muitos quadros interessantes e de bom conteúdo. Durante muito tempo do programa o “layout” do palco do Show do Mercantil tinha como pano de fundo o Conjunto Big Brasa, que apresentava dois ou três números musicais.

Assim, qualquer que fosse a atração, estava lá o Conjunto Big Brasa aparecendo na TV. Isto contribuiu de forma significativa para nossa maior divulgação no interior do Estado. No decorrer dos programas o apresentador, Augusto Borges, frequentemente se dirigia ao Big Brasa, fazendo um comentário ou simplesmente brincando com algum de nossos componentes. Desse modo nossa imagem se propagou rapidamente e nos tornamos muito conhecidos pelo público em geral. Na imagem abaixo, o Conjunto Big Brasa no programa Show do Mercantil, com seu apresentador Augusto Borges. A formação do Big Brasa, da esquerda para a direita: Severino Tavares (baterista), João Ribeiro (guitarra-solo), Adalberto Lima (teclado), Lucius Maia (contrabaixista) e Edson Girão (guitarra-base e vocalista).  



Equipe de produção

O programa foi produzido por muito tempo pelo Tertuliano Siqueira, filho do falecido guitarrista Paulo de Tarso, que hoje trabalha para o grupo do jornal “O Povo”, auxiliado pelo Oliveira Martins. O Terto, como alguns o chamavam, tinha boas ideias. Produzir e dirigir um programa de televisão semanal, em Fortaleza, com duas horas de duração, não era fácil. O cara tem que se virar para arranjar matérias e atrações. Entrevistas diversas, artistas de fora do Estado e curiosidades, como o quadro “Fora de Série” faziam parte do show.

O Conjunto Big Brasa quase sempre apresentava um número na abertura e mantinha algumas músicas para preencher alguma lacuna. Acompanhava a apresentação dos calouros e praticamente todos os cantores que vinham do Sul do País para temporadas em Fortaleza. Adquirimos muita experiência musical por causa disso. Tínhamos mesmo que saber, ou seja, conhecer bem as harmonias, os acompanhamentos de tudo que é música ou então “ter ouvido” para pegar o acompanhamento na hora do ensaio, rapidamente. E depois, memorizar tudo aquilo para não falhar durante o programa, sempre realizado “ao vivo”.

Sempre havia muita movimentação no Show do Mercantil, de modo especial quando o período escolar tinha início e o quadro “Colégio contra Colégio” também. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo jeito.

Auditório do Show do Mercantil

Quem conhecia as dependências da TV Ceará, com seu longo corredor central, sabia como chegar ao auditório do programa por dentro, em vez de ser pela entrada lateral.  E aí ficava sempre meio agitado, com o pessoal querendo ver os artistas, olhar o programa da sala de espera, o que não era permitido pela produção, principalmente pela falta de espaço. Na realidade eu sempre estava ocupado durante quase todo o programa, para que minha participação como produtor musical e guitarrista do Big Brasa tivesse um bom desempenho, assim como todo o nosso Conjunto Big Brasa.

Acertos com a produção e os imprevistos

Logo que chega à TV Ceará, aos sábados, passava pela produção e recebia o roteiro do programa. Conferia toda a parte musical, tirava alguma dúvida e depois ia me reunir com o pessoal do conjunto para dar uma revisada nas músicas (muitas vezes desconhecidas, o que nos dificultava um pouco). Mas havia os imprevistos! Algumas vezes, artistas de fora do Estado só chegavam em cima da hora, com o programa já no ar. E o apresentador, Augusto Borges, me chamava durante algum intervalo e dizia para eu ir passar as músicas rapidamente. Como um exemplo que marcou muito foi o Cauby Peixoto, que chegou com o programa iniciado. Eu peguei a guitarra e na sala de espera, que ficava ao lado do palco, rapidamente dele recebi uma sequência de dezoito músicas, que fizeram parte de um “pot-pourri” por ele cantado. Anotei a introdução para a primeira delas e as tonalidades seguintes. As mudanças foram feitas com muita tranquilidade e tudo deu certo, graças à experiência do Cauby em sinalizar, sutilmente, as passagens, mudanças, repetições etc. Esses fatos nos ajudaram muito, musicalmente. Não era somente o fato de saber tocar esta ou aquela canção e sim, de acompanhar o que viesse. Despertava assim também um sentido de atenção musical e até de improvisação para corrigir uma emendar alguma falha, muitas vezes imperceptível pelo público em geral.

Quadros do programa

Durante o período letivo um bom quadro figurava em destaque: o Colégio contra Colégio se encarregava de animar o programa suficientemente, pelas disputas entre os estudantes. Muita animação e disputas entre os estudantes, gincanas etc. Em uma das oportunidades uma das equipes me convidou para participar de uma gincana para tocar vários instrumentos. Então resolvi aproveitar todos os instrumentos de teclado, como acordeon, piano, escaleta, órgão eletrônico; os instrumentos de corda: guitarra, contrabaixo, cavaquinho, bandolim, banjo e violino; de percussão aproveitei tudo que tinha direito: bateria, tarol, surdo e um tantã; e por último piston, que sabia tocar duas músicas. Fiquei um pouco decepcionado porque os jurados dividiram o prêmio entre mim e um rapaz que tinha montado um rádio em uma caixa de papelão. Pode? São coisas que acontecem na vida, não é mesmo? Outro quadro interessante foi o Fora de Série, no mesmo formato que outros programas utilizavam no sul e sudeste do país, trazendo atrações muito interessantes, como mágicos, contorcionistas, pessoas que se propunham a comer quantidades enormes de frutas e coisas estranhas dessa natureza. Cheguei a ver uma levitação, outra vez um candidato que enfiava agulhas pelo corpo inteiro, sem que nada o ferisse. Este, por sinal, fez uma demonstração prévia para a produção, que eu assisti, no qual todos nós ficamos abismados com o show. Exigia como ele próprio nos disse, uma enorme concentração para poder conseguir realizar as perfurações. 

Ensaio geral do Show do Mercantil

Realizado às sextas-feiras, quando o roteiro do programa estava pronto. No que se refere à parte musical o conjunto Big Brasa ensaiava com os calouros todas as músicas, com introduções, até que ficassem no ponto, nem que fosse ao ponto de errar no sábado, como alguns faziam, face ao nervosismo... Depois desse ensaio geral as entradas das músicas eram repassadas de forma muito rápida, só para relembrar, no sábado, antes do início do programa, com o Conjunto Big Brasa no palco do programa, a postos. A título de curiosidade: por medida de segurança, aos sábados, eu chegava bem antes do horário, conferia todo o equipamento e ainda dava uma passada com os calouros ou cantores locais que fossem se apresentar.

Esta série continua no Capítulo VIII ainda com O Programa Show do Mercantil (Parte 2) com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

Feliz Natal e um Ano Novo com muita saúde!

Para nós, cristãos, o Natal representa um marco significativo daquele que veio ao mundo para nos salvar, Jesus Cristo, e que nos deixou todas as marcas, indicações e ensinamentos para o caminho do Bem. Para todos os povos do mundo a mudança de ano trás reflexões. Entretanto neste ano de 2020 tudo foi diferente, com os males ocasionados pela pandemia. Nenhum de nós tinha visto nada igual.

Encarar esta realidade é preciso, ao mesmo tempo em que resistir e lutar por melhoras. A humanidade tomou mais consciência de que nossa existência é muito frágil. Perdemos muitas vidas para um inimigo invisível e cruel. O mundo entrou em uma fase inesperada e muito difícil, da qual ainda não conseguimos sair. De acordo com o filósofo e líder espiritual indiano, Buda, “as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”.

Confesso que atravesso este período natalino com bastante tristeza por tudo que vimos ao tempo que externo meus sentimentos pela perda de vidas e sofrimento que atingiram milhões de pessoas nestes meses de extremas dificuldades por causa da pandemia. Diariamente assistimos uma verdadeira luta em favor da vida, contra um inimigo implacável. Aprendi a respeitar mais os meus limites e passarei a cuidar bem mais deste bem maior precioso que é a nossa Vida.

A cada ano a vida está se tornando mais agitada e temos mais pressa. Importante dizer que é hora de continuarmos na defensiva e de renovarmos as esperanças para que o Ano Novo possa nos trazer melhoras e assim possamos continuar os nossos sonhos e projetos. Assim:

Aproveitem o seu melhor presente que é a vida!

Preserve a sua Vida e ajude ao próximo a fazê-lo.

Não deixe de fazer o bem sem olhar a quem.

Não deixe de ter pessoas a seu lado, embora nosso contato físico esteja limitado.  

Não deixe de fazer um bem hoje para fazer amanhã, porque o dia seguinte é incerto para todos nós.

Não deixe nenhuma mágoa afetar suas mentes que deverá permanecer limpa e serena.

Procure apagar de sua mente, dentro de nossa vida atual, tudo aquilo que merece ser esquecido e guardar os aprendizados para o período que se inicia.

Agradeça pelo bem que foi capaz de fazer e pelo mal que foi capaz de superar! Agradeça por estar presente!

Agradeçamos a Deus principalmente, pelo presente da Vida.

Com a tecnologia que dispomos é possível expressar nossos sentimentos de forma a alcançar boa parte de nossos amigos, família e parentes. Gostaria de me dirigir a cada um de forma particular, mas é praticamente impossível.


João Ribeiro da Silva Neto

Em dezembro de 2020

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VI - Os Festivais Nordestinos da Música Popular

 

 

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VI

 

Os Festivais Nordestinos da Música Popular

A TV Ceará marcou presença em dois Festivais Nordestinos da Música Popular, realizados em Recife, que foram os primeiros a serem transmitidos em rede regional de televisão para o Norte e Nordeste.  

Pouco antes da final de um dos Festivais Nordestinos da Música Popular que o Conjunto Big Brasa participou, acompanhando entre outras, as músicas do cantor e compositor Ednardo Sousa (Pessoal do Ceará), dentre elas a linda canção Beira-Mar. Para tanto nós adquirimos por intermédio do tio João, em São Paulo, dois pedais de efeito para guitarra tipo “wah-wah” de marca nova. A idéia era usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão.

A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro exemplo de uma logística perfeita, um show de competência. Tudo muito rápido, o pedido (encomenda) ao meu tio João Ribeiro, em São Paulo, a aquisição dos equipamentos, a remessa de São Paulo para Fortaleza e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no departamento de bagagens da VARIG, quase às 11 horas da noite. Deu tudo certo, os pedais wah-wah foram incorporados ao nosso instrumental e utilizados de acordo com os nossos arranjos. Vale dizer que as comunicações por volta de 1970 eram bem mais difíceis e demoradas. Nada existia como hoje, a exemplo de que podemos fotografar um equipamento de qualquer lugar do mundo, enviar uma ou várias fotos imediatamente e receber ou não autorização para comprar...

Nota de imprensa sobre o Festival

Sobre esse evento, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por um jornal cearense:

- “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de músicos cearenses destaca-se a participação do Conjunto Big Brasa, que defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e quarto lugares respectivamente”.

O Conjunto Big Brasa participou por duas vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular, acompanhando o Ednardo, do Pessoal do Ceará. Os eventos foram televisionados para todo o Norte e Nordeste. A transmissão via EMBRATEL consistia novidade naquela época e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de grande vulto mereciam tal destaque. 

Participação em Recife

Na fotografia abaixo, que está em nosso acervo, aparecem o Ednardo em primeiro plano e por trás o nosso Conjunto Big Brasa e orquestra de Recife. Foi publicada em reportagem de três páginas 
na extinta-revista O Cruzeiro, sobre o Festival e à participação do Ednardo com a música Beira-Mar. O Big Brasa era composto de Severino Tavares (baterista), Adalberto Lima (tecladista), Edson Girão (guitarrista-base), João Ribeiro (guitarrista-solo) e Lucius Maia (contrabaixista.


A respeito desse Festival lembro alguns acontecimentos interessantes. Um deles ocorreu durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, porém mais bem acabado, com alojamentos e restaurante, e com uma área externa maior). Foi assim: o Conjunto Big Brasa ao ensaiar com a orquestra de Recife, acompanhando Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou muito entusiasmado com a música e o com nosso arranjo. Também entre os músicos da orquestra a opinião unânime era que aquela música tiraria o primeiro lugar. Mas como para ganhar em Recife não tinha jeito mesmo, ficamos apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a reportagem de três páginas na extinta Revista “O Cruzeiro”, sobre o Festival, transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Big Brasa e pela orquestra de Recife, foto que mantemos até hoje como “relíquia”, no acervo do Big Brasa.

Um episódio digno de registro

Durante o intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar “no ar” com o Ednardo, o público do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a nos vaiar intensamente. E tome vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da plateia tocava uma buzina duas vezes e depois vinha a vaia. Tudo isso no tempo de um intervalo da televisão. Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. Mas por felicidade e presença de espírito, talvez, peguei o tom exato daquela buzina na guitarra e, com o “wah-wah”, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena altura! O pessoal gostou, o negócio virou brincadeira, alguns aplaudiram e a vaia felizmente cessou. Foi ótimo para todos nós.

Falha por conta do Maestro

Por último faço questão de registrar aqui a verdadeira e inadmissível falha do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a introdução, o mesmo que eu tinha feito para ele no ensaio da tarde. Então expliquei e cantei as primeiras notas da melodia, gesticulando o andamento correto da música. Pois bem: qual foi nossa surpresa quando esse maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado. O nosso baterista (do Big Brasa) estava com a orquestra pernambucana. Foi uma luta nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento retroceder o ritmo ao original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não isso certamente contribuiu muito para atrapalhar o Ednardo em sua interpretação. Este deslize do maestro pernambucano, de propósito ou não, prejudicou de forma significativa nosso desempenho naquela noite. Lembro muito que a Neide Maia, que estava com a equipe da TV Ceará, demonstrou sua revolta com tudo aquilo.

Encontro com o guitarrista Pepeu Gomes

Pouca gente sabe disso, a não ser aqueles que estavam comigo em uma tarde de ensaio no Ginásio Coberto, em Embiribeira, esperando para passar o som e ajustar as músicas. Ao chegar, com minha guitarra para afiná-la e fazer os últimos ajustes, encontrei com um guitarrista que estava tocando um pouco e exercitando seus “riffs”. Pois bem, era nada mais do que Pepeu Gomes. E eu soube depois, quando fui me despedir dele e nos apresentamos... Na hora observei um pouco, liguei minha guitarra e comecei também a fazer alguns solos. Deu certo e o duelo entre nós se estabeleceu de forma muito legal. Ao final de alguns minutos paramos e nos cumprimentamos. Eu disse que estava com a representação cearense naquele Festival. Ora, se eu estudava muito as técnicas do Jimi Hendrix e o Santana, que ainda são meus ídolos, foi muito bom tocar um pouco com este exímio guitarrista e gente boa. Aprendi mais um pouco, certamente, como acho que todo músico deve proceder.    

Bons momentos de lazer

Nas folgas, depois dos compromissos com ensaios, saíamos em grupo para conhecer os pontos principais de Recife. Quase tudo financiado pela TV Ceará ou Diários e Emissoras Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa Viagem e em algumas boates da cidade.

Esta série continuará no Capítulo VII com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará, contendo o seguinte tópico:

- O programa Show do Mercantil

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo V - O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará

  


Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo V

O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará, Canal 2 

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará, Canal 2

O Conjunto Big Brasa foi fundado em abril de 1967 e iniciou suas atividades tocando em restaurantes na Beira-Mar, para se promover, o que surtiu efeito. O  som das guitarras e as músicas eram novidade e chamavam a atenção. Com algum tempo estreou no Balneário Clube de Messejana e teve rápida ascensão e uma presença marcante e frequente na televisão cearense por quase sete anos, fator que influiu de forma significativa na divulgação do grupo em Fortaleza e de modo especial no interior cearense. As festas, pelos diversos clubes de Fortaleza e do interior do Estado eram constantes. O Big Brasa ainda realizou excursões pelos Estados do Piauí e Maranhão, das quais felizmente ainda temos muito material no acervo do grupo. 

A participação em programas na TV Ceará, Canal 2

A fotografia abaixo, do Conjunto Big Brasa, foi obtida em dependências da televisão no período em que o grupo esteve na TV Ceará. Da esquerda para a direita estão Severino Tavares (baterista), João Ribeiro (guitarrista-solo), Lucius Maia (contrabaixista e vocalista), Adalberto Pereira Lima (tecladista) e Edson Girão (guitarrista-base e vocalista). Desta imagem, naquele período foram feitas mil cópias para serem enviadas juntamente com as respostas às fãs de nosso grupo musical.   




O ingresso do Conjunto Big Brasa na televisão ocorreu em 1970 por ocasião de um Festival Nordestino da Música Popular, quando o Conjunto Big Brasa acompanhava o Ednardo, na música “Beira-Mar”, no Náutico Atlético Cearense, quando ele conseguiu o primeiro lugar! Na oportunidade o Conjunto Big Brasa estava bem estruturado e produzia arranjos musicais belíssimos nas músicas que executava. Na final desse festival a bela música do Ednardo tirou o primeiro lugar, merecidamente, fato amplamente noticiado através da imprensa local. Como sempre, em minha empolgação com a música, procurava escrever os arranjos, anotar as introduções e criar sempre o melhor dentro de nossas possibilidades musicais.

Detalhe: na referida apresentação no Náutico Atlético Cearense o Conjunto Big Brasa foi observado de perto pelo apresentador de TV e radialista Augusto Borges, que comandava naquela época o programa “Show do Mercantil”, levado ao ar aos sábados pela TV Ceará, Canal 2, antiga emissora de Rede Tupi de Televisão (cujo logotipo era um indiozinho). Este programa era patrocinado pelo Mercantil São José. Pois bem, o Augusto Borges ficou bem impressionado com o desempenho do Conjunto e nos convidou para participar de seu programa. Assim foi o início de nosso contato com a televisão, que nos proporcionou uma rápida ascensão, muita propaganda em razão dos programas serem transmitidos para todo o Ceará e chegar ainda a alguns estados do Nordeste, como o Piauí e consequentemente muito contratos.

Como a TV Ceará promoveu o Big Brasa

Em razão de um programa semanal, o Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados e de outro programa, o Studio 2, este por sua vez apresentado diariamente, ao meio-dia até às 13 horas, o número de fãs do Conjunto cresceu repentinamente. 

O nosso grupo musical recebia cerca de cinquenta cartas por dia, de Fortaleza e de todo o interior cearense. Tentamos no início manter uma pessoa para responder na medida do possível, mas tudo não passou de uns seis meses. Não tivemos estrutura para isso. Ainda tenho inúmeras cartas de fãs, dirigidas a mim, guardadas no acervo do grupo. Neste período lembro que mandei fazer mil cópias de uma foto minha, junto ao caminhão de reportagens externas da TV Ceará, para atender aos pedidos das fãs do grupo.

Muitos contatos e um trabalho musical interessante

É importante mencionar que depois de iniciarmos no Show do Mercantil, apresentado pelo Augusto Borges, a entrada do Conjunto Big Brasa na TV Ceará nos proporcionou contato com dezenas de cantores da Jovem Guarda e outros gêneros vindos do Sul e Sudeste do País através do programa Show do Mercantil. Muitos foram os shows e ensaios realizados com praticamente todos do chamado Pessoal do Ceará.

A expressão ''Pessoal do Ceará'' batizou toda essa geração de artistas e intelectuais e constituiu um movimento de sucesso na música cearense, com artistas a exemplo de Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Téti, Jorge Mello e Belchior. Foram muitas apresentações na televisão com quase todos eles, valendo destacar os inúmeros shows com o Ednardo pelo Nordeste, a Inauguração do Ginásio Paulo Sarasate, com a presença do saudoso Belchior e muito mais! Nesta série vamos apresentar parte de acervo fotográfico do Conjunto Big Brasa, através de vários álbuns, com imagens do Big Brasa no Show do Mercantil e também no Studio 2.

Esta série continuará no Capítulo VI com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará, contendo o seguinte tópico:

- Os Festivais Nordestinos da Música Popular

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 – Capítulo IV - Minhas lembranças pessoais

 


                          Série: TV Ceará, Canal 2 – Capítulo IV

Minhas lembranças pessoais

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)

Os amigos da parte técnica

Continuando a falar sobre a TV Ceará Canal 2, neste capítulo os meus agradecimentos a toda a equipe técnica da televisão, que sempre nos acolheu de forma excelente, com muito carinho pelo Conjunto Big Brasa e auxílio em algumas emergências de equipamentos nossos, que passavam às vezes parte da semana na própria TV Ceará, em virtude dos programas diários como o Studio 2. Entre eles o Bernardo, o Spicy e o próprio Cabral, engenheiro da televisão. O ambiente entre todos nós que participávamos da televisão, verdadeiramente, era muito agradável, agitado, animado e alegre e que nos trouxe muitas amizades, por coincidências cinco adjetivos começados com a letra “a”.

Ainda na área técnica enfatizo o meu agradecimento mais uma vez a todos os técnicos, na pessoa do engenheiro Cabral, o chefe da engenharia da televisão, com seus auxiliares como o Bernardo, Tantico e “Spicy”, pelas inúmeras vezes que nos auxiliaram em reparos em amplificadores e cabos (às vezes uma simples solda), quando os defeitos ocorriam nas emergências. Eu mesmo levava o que tinha para ser consertado para a sala de oficina técnica que ficava no segundo andar do prédio (ver planta baixa).

Os diretores de imagem (suítes)

Entre relatos de minhas lembranças, menciono carinhosamente e com muita saudade pessoas com quais tinha contatos frequentes, ligadas à parte técnica. E dentre elas estão o suíte Aderson Maia (Dedeco), uma pessoa espetacular, bondosa e que gostava muito de nossa atuação como guitarrista do Big Brasa, brincando comigo sempre que nos encontrávamos nos corredores da televisão. O Dedeco, como muitos o chamavam, quando cruzava comigo nos bastidores sorria muito e gesticulava como se estivesse fazendo os solos em uma guitarra, que ele gostava muito. Na linguagem de TV, ele “cortava” o programa Show do Mercantil, ou seja, operava como suíte (Diretor de imagens). Também lembro a figura do Gonzalez (também suíte, mas de outro programa que trabalhávamos, o Studio 2. O Sebastião Belmino foi uma das pessoas que se destacou na TV Ceará, por ter passado por vários estágios em diferentes funções, como Assistente de Estúdio, Câmera até chegar à condição de Diretor de Imagens. Em conversa com o Belmino sobre a planta baixa que desenhei, para relembrarmos a TV Ceará, Canal 2, ele me reportou que  teve bons, como Daniel Menezes e o próprio Aderson Maia. Belmino se destacaria também, mas à frente, como diretor de imagens na TVE e como apresentador e comentarista esportivo na televisão e no rádio cearense, com muito sucesso.

Observando o desenho da planta baixa que fiz, do prédio da TV Ceará, o amigo Belmino me tirou uma curiosidade.  Eu nunca estive na sala técnica de Direção de Imagens, mesmo porque sempre estava do outro lado, tocando... E eu só enxergava essa sala quando estava no Estúdio grande, que dava para avistar um vidro ao alto (no segundo andar), onde ficavam os equipamentos. Mas explicou o Belmino que da mesa de corte (suíte), à esquerda tinha um vidro grande onde de via o estúdio grande (A), onde o Conjunto Big Brasa fazia o programa Studio 2 e eram feitos também alguns comerciais. Mais antigamente as telenovelas ao vivo. Pois bem, neste estúdio ficavam duas câmeras com torre de lentes. Câmeras um e dois. Em frente à técnica tinha a cabine de locução, também isolada por um vidro. Vizinho tinha o estúdio (B) onde eram feitos os comerciais ao vivo também com vidro. Uma câmera que tinha zoom, a câmeras três. Depois os comerciais passaram para o estúdio (A). A câmera três foi também pra lá. Auditório era tudo como estúdio (C). O auditório não tinha visão do suíte, o que em meu entendimento poderia dificultar um pouco. Os suítes só tinham a visão das imagens através dos previews das câmeras.

Futuramente, quando passei a trabalhar na TVE – Televisão Educativa do Ceará, fiz muitos programas tendo o Belmino como suíte e eu como Sonoplasta, assim como o nosso Daniel Menezes, que além de tudo era também radioamador, como eu. 

Perdoem-me por não conseguir lembrar o nome completo de todos os muitos amigos que fizemos naquela emissora, de praticamente todos os setores.

Os operadores de câmeras

Recordo muito os câmeras-men Fred e William (chamado de “irmão” por todos) e o Zé Lenir. Este trio de câmeras fazia quase sempre o programa Studio 2, no qual o Big Brasa se apresentava diariamente. O Irmão e o Fred faziam sempre os programas Show do Mercantil. Outro dos câmeras-men chamava-se Peixoto. Lembro que esteve presente até durante a recepção de meu casamento, em 1973, na Igreja de Fátima, realizada depois em nossa casa, com uma boa turma da TV Ceará. 

Do “Irmão” tenho lembranças espetaculares das muitas vezes que ele estava me mostrando, no Estúdio A da TV, durante o programa “Studio 2” (foto acima), quando ficava, sempre sorrindo, me “perseguindo” com a câmera, mostrando os solos de minha guitarra,  com a câmera praticamente colada à guitarra, mas, também, com o objetivo de destacar minha aliança de forma bem acentuada, para que nossas fãs do interior do Estado a vissem. Ele sorria muito e eu ficava, com a câmera dele muito aproximada, tentando afastá-lo e empurrando o tripé da câmera com os pés. Todos os momentos de intensas e agradáveis lembranças para mim. Este programa Studio 2 era diário.

Operação de áudio

Nos programas Show do Mercantil era realizada pelo conhecido Mauro Coutinho, que atuou nas diferentes emissoras de rádio e estúdios no Ceará. A cabine de áudio ficava ao lado do palco, no auditório do Canal 2. E víamos o Mauro e os equipamentos em sua cabine durante o programa.

Vocês sabem o que são sinais de tempo, no rádio?

São aqueles sons que você ouve e que antecedem a marcação do tempo pelos locutores nas partidas de futebol. Funcionam assim até hoje. O operador de áudio interrompe a locução ou solta por cima o sinal de tempo para que o locutor possa informar: são “tantos minutos do primeiro tempo e o placar está...”. E assim estes sinais de tempo eram repetidos até que os ouvintes ficassem com reflexo condicionado ao som... O Mauro Coutinho, entusiasmado, me pediu algumas vezes para que eu gravasse com a guitarra e distorção vários pequenos “riffs”, para que ele escolhesse sinais de tempo. E gravamos vários, somente com guitarra e distorção. Ele escolheu um deles, que passou anos no ar na Ceará Rádio Clube. E toda vez que eu o ouvia ficava feliz. Até hoje estou em pleno anonimato quanto a isso, mas o prazer era grande de ter o seu solo no ar em todas as transmissões esportivas de futebol.

O gosto por fotografia e filmagens

Durante os programas Studio 2, como nós ficávamos de sobreaviso para entrar a qualquer momento para nossas apresentações (três ou quatro músicas, a depender do dia), eu gostava de ficar com alguma câmera e mostrava imagens, sempre com o consentimento de algum deles, quase sempre o Zé Lenir. Pedia para que os operadores me deixassem trabalhar um pouquinho com elas durante os programas. Isso acontecia mais com a câmera 3, que me parece era a que mais folgava. Em uma das vezes um fotógrafo da Televisão, que não lembro o nome, me fotografou com a câmera. Tudo normal. Anos depois encontrei esta foto na internet e fiquei até feliz por recuperar aquela lembrança. Esta imagem minha com a câmera está entre os artigos do site Fortaleza Nobre, entre as matérias sobre a TV Ceara.

O ambiente na TV Ceará, Canal 2

Bom relembrar para vocês que o ambiente na TV Ceará, pelo que ficou em minha memória, sempre foi muito bom. Passávamos nos corredores, entrávamos no estúdio principal, onde era produzido o Studio 2, as entrevistas e o Big Brasa se apresentava sempre diariamente. 

Vale repetir o conceito externado no princípio, de que o ambiente entre todos nós que participávamos da televisão, verdadeiramente, era muito agradável, agitado, animado e alegre e que nos trouxe muitas amizades, por coincidências cinco adjetivos começados com a letra “a”.

O programa do Colombo Sá

Depois, trafegando às quartas-feiras, antes ou depois da seleção de calouros, eu entrava um pouco no estúdio da Ceará Rádio Clube (acenava pelo visor para o Colombo Sá, apresentador do programa “Clube dos Tetéus”, pedindo para entrar no estúdio e ele acenava, consentindo). Meu interesse pelas operações técnicas de televisão e rádio, como tudo de eletrônico, sempre falava mais alto. A operação de áudio, que eu sempre gostei, ficava ao lado da cabine onde o Colombo Sá apresentava o programa (todo o estúdio, logicamente, possuía isolamento acústico. Ficava observando e aprendendo um pouco, atentamente aos detalhes gerais, da mesa de som etc. Nem imaginava que anos depois utilizaria aquele aprendizado como sonoplasta na TV Educativa do Ceará, onde trabalhei por cinco anos.

Ivan Prudêncio

Da mesma forma ocorria com o Ivan Prudêncio, discotecário da Ceará Rádio Clube. Sempre muito cuidadoso com o seu material, foi muito gentil conosco e emprestava eventualmente disco com sucessos para que nós do Big Brasa gravássemos as músicas para ensaiá-las e acrescentá-las ao repertório de nosso Conjunto. E depois da utilização, com muito cuidado, eu sempre os devolvia prontamente. Conforme o Sebastião Belmino, o Ivan Prudêncio era o melhor sonoplasta da época das produções de telenovelas, na TV Ceará.

O restaurante “Jerbô”

Quase todos nós da televisão, do programa, músicos, artistas e outros participantes frequentávamos o Jerbô Lanches, que ficava na Avenida Antônio Sales, quase esquina com a TV Ceará.

Sempre antes dos programas diários ou depois deles, ou mesmo aos finais do Show do Mercantil aos sábados, depois do ensaio-geral das sextas-feiras eu e nosso pessoal do Big Brasa nós íamos até o Jerbô. Fiz uma vez uma prova de honestidade com o gentil proprietário, Sr. Jerbô, para ter crédito com eles caso um dia fosse necessário. Disse propositalmente para ele, o proprietário, Sr. Jerbô, que desejava fazer um lanche, mas tinha esquecido a carteira, explicando que era do Conjunto Big Brasa que tocava ali na TV Ceará. E ele olhou para mim e disse, calmamente: “Claro que sim, rapaz, faça seu lanche à vontade”. E assim o fiz. Lanchei e no dia seguinte o procurei para fazer o pagamento e agradecer a gentileza dele.

Fotografias do acervo do Conjunto Big Brasa

Ao final desta série selecionarei muitas imagens do acervo do Conjunto Big Brasa as quais serão postadas em um álbum, que será compartilhado com todos vocês.  

Na sequência o Capítulo V com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará, contendo os seguintes tópicos:

- O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará

- Muitos contatos e um trabalho musical interessante

 

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto, o (Beiró), Músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.