quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VI - Os Festivais Nordestinos da Música Popular

 

 

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VI

 

Os Festivais Nordestinos da Música Popular

A TV Ceará marcou presença em dois Festivais Nordestinos da Música Popular, realizados em Recife, que foram os primeiros a serem transmitidos em rede regional de televisão para o Norte e Nordeste.  

Pouco antes da final de um dos Festivais Nordestinos da Música Popular que o Conjunto Big Brasa participou, acompanhando entre outras, as músicas do cantor e compositor Ednardo Sousa (Pessoal do Ceará), dentre elas a linda canção Beira-Mar. Para tanto nós adquirimos por intermédio do tio João, em São Paulo, dois pedais de efeito para guitarra tipo “wah-wah” de marca nova. A idéia era usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão.

A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro exemplo de uma logística perfeita, um show de competência. Tudo muito rápido, o pedido (encomenda) ao meu tio João Ribeiro, em São Paulo, a aquisição dos equipamentos, a remessa de São Paulo para Fortaleza e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no departamento de bagagens da VARIG, quase às 11 horas da noite. Deu tudo certo, os pedais wah-wah foram incorporados ao nosso instrumental e utilizados de acordo com os nossos arranjos. Vale dizer que as comunicações por volta de 1970 eram bem mais difíceis e demoradas. Nada existia como hoje, a exemplo de que podemos fotografar um equipamento de qualquer lugar do mundo, enviar uma ou várias fotos imediatamente e receber ou não autorização para comprar...

Nota de imprensa sobre o Festival

Sobre esse evento, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por um jornal cearense:

- “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de músicos cearenses destaca-se a participação do Conjunto Big Brasa, que defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e quarto lugares respectivamente”.

O Conjunto Big Brasa participou por duas vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular, acompanhando o Ednardo, do Pessoal do Ceará. Os eventos foram televisionados para todo o Norte e Nordeste. A transmissão via EMBRATEL consistia novidade naquela época e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de grande vulto mereciam tal destaque. 

Participação em Recife

Na fotografia abaixo, que está em nosso acervo, aparecem o Ednardo em primeiro plano e por trás o nosso Conjunto Big Brasa e orquestra de Recife. Foi publicada em reportagem de três páginas 
na extinta-revista O Cruzeiro, sobre o Festival e à participação do Ednardo com a música Beira-Mar. O Big Brasa era composto de Severino Tavares (baterista), Adalberto Lima (tecladista), Edson Girão (guitarrista-base), João Ribeiro (guitarrista-solo) e Lucius Maia (contrabaixista.


A respeito desse Festival lembro alguns acontecimentos interessantes. Um deles ocorreu durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, porém mais bem acabado, com alojamentos e restaurante, e com uma área externa maior). Foi assim: o Conjunto Big Brasa ao ensaiar com a orquestra de Recife, acompanhando Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou muito entusiasmado com a música e o com nosso arranjo. Também entre os músicos da orquestra a opinião unânime era que aquela música tiraria o primeiro lugar. Mas como para ganhar em Recife não tinha jeito mesmo, ficamos apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a reportagem de três páginas na extinta Revista “O Cruzeiro”, sobre o Festival, transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Big Brasa e pela orquestra de Recife, foto que mantemos até hoje como “relíquia”, no acervo do Big Brasa.

Um episódio digno de registro

Durante o intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar “no ar” com o Ednardo, o público do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a nos vaiar intensamente. E tome vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da plateia tocava uma buzina duas vezes e depois vinha a vaia. Tudo isso no tempo de um intervalo da televisão. Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. Mas por felicidade e presença de espírito, talvez, peguei o tom exato daquela buzina na guitarra e, com o “wah-wah”, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena altura! O pessoal gostou, o negócio virou brincadeira, alguns aplaudiram e a vaia felizmente cessou. Foi ótimo para todos nós.

Falha por conta do Maestro

Por último faço questão de registrar aqui a verdadeira e inadmissível falha do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a introdução, o mesmo que eu tinha feito para ele no ensaio da tarde. Então expliquei e cantei as primeiras notas da melodia, gesticulando o andamento correto da música. Pois bem: qual foi nossa surpresa quando esse maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado. O nosso baterista (do Big Brasa) estava com a orquestra pernambucana. Foi uma luta nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento retroceder o ritmo ao original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não isso certamente contribuiu muito para atrapalhar o Ednardo em sua interpretação. Este deslize do maestro pernambucano, de propósito ou não, prejudicou de forma significativa nosso desempenho naquela noite. Lembro muito que a Neide Maia, que estava com a equipe da TV Ceará, demonstrou sua revolta com tudo aquilo.

Encontro com o guitarrista Pepeu Gomes

Pouca gente sabe disso, a não ser aqueles que estavam comigo em uma tarde de ensaio no Ginásio Coberto, em Embiribeira, esperando para passar o som e ajustar as músicas. Ao chegar, com minha guitarra para afiná-la e fazer os últimos ajustes, encontrei com um guitarrista que estava tocando um pouco e exercitando seus “riffs”. Pois bem, era nada mais do que Pepeu Gomes. E eu soube depois, quando fui me despedir dele e nos apresentamos... Na hora observei um pouco, liguei minha guitarra e comecei também a fazer alguns solos. Deu certo e o duelo entre nós se estabeleceu de forma muito legal. Ao final de alguns minutos paramos e nos cumprimentamos. Eu disse que estava com a representação cearense naquele Festival. Ora, se eu estudava muito as técnicas do Jimi Hendrix e o Santana, que ainda são meus ídolos, foi muito bom tocar um pouco com este exímio guitarrista e gente boa. Aprendi mais um pouco, certamente, como acho que todo músico deve proceder.    

Bons momentos de lazer

Nas folgas, depois dos compromissos com ensaios, saíamos em grupo para conhecer os pontos principais de Recife. Quase tudo financiado pela TV Ceará ou Diários e Emissoras Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa Viagem e em algumas boates da cidade.

Esta série continuará no Capítulo VII com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará, contendo o seguinte tópico:

- O programa Show do Mercantil

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

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