segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Série: TV Ceará, Canal 2 - Capítulo VII O Programa “Show do Mercantil” (Parte I)

                   


O Programa Show do Mercantil

O Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados, pela extinta TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi de Televisão, sempre apresentava muitos quadros interessantes e de bom conteúdo. Durante muito tempo do programa o “layout” do palco do Show do Mercantil tinha como pano de fundo o Conjunto Big Brasa, que apresentava dois ou três números musicais.

Assim, qualquer que fosse a atração, estava lá o Conjunto Big Brasa aparecendo na TV. Isto contribuiu de forma significativa para nossa maior divulgação no interior do Estado. No decorrer dos programas o apresentador, Augusto Borges, frequentemente se dirigia ao Big Brasa, fazendo um comentário ou simplesmente brincando com algum de nossos componentes. Desse modo nossa imagem se propagou rapidamente e nos tornamos muito conhecidos pelo público em geral. Na imagem abaixo, o Conjunto Big Brasa no programa Show do Mercantil, com seu apresentador Augusto Borges. A formação do Big Brasa, da esquerda para a direita: Severino Tavares (baterista), João Ribeiro (guitarra-solo), Adalberto Lima (teclado), Lucius Maia (contrabaixista) e Edson Girão (guitarra-base e vocalista).  



Equipe de produção

O programa foi produzido por muito tempo pelo Tertuliano Siqueira, filho do falecido guitarrista Paulo de Tarso, que hoje trabalha para o grupo do jornal “O Povo”, auxiliado pelo Oliveira Martins. O Terto, como alguns o chamavam, tinha boas ideias. Produzir e dirigir um programa de televisão semanal, em Fortaleza, com duas horas de duração, não era fácil. O cara tem que se virar para arranjar matérias e atrações. Entrevistas diversas, artistas de fora do Estado e curiosidades, como o quadro “Fora de Série” faziam parte do show.

O Conjunto Big Brasa quase sempre apresentava um número na abertura e mantinha algumas músicas para preencher alguma lacuna. Acompanhava a apresentação dos calouros e praticamente todos os cantores que vinham do Sul do País para temporadas em Fortaleza. Adquirimos muita experiência musical por causa disso. Tínhamos mesmo que saber, ou seja, conhecer bem as harmonias, os acompanhamentos de tudo que é música ou então “ter ouvido” para pegar o acompanhamento na hora do ensaio, rapidamente. E depois, memorizar tudo aquilo para não falhar durante o programa, sempre realizado “ao vivo”.

Sempre havia muita movimentação no Show do Mercantil, de modo especial quando o período escolar tinha início e o quadro “Colégio contra Colégio” também. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo jeito.

Auditório do Show do Mercantil

Quem conhecia as dependências da TV Ceará, com seu longo corredor central, sabia como chegar ao auditório do programa por dentro, em vez de ser pela entrada lateral.  E aí ficava sempre meio agitado, com o pessoal querendo ver os artistas, olhar o programa da sala de espera, o que não era permitido pela produção, principalmente pela falta de espaço. Na realidade eu sempre estava ocupado durante quase todo o programa, para que minha participação como produtor musical e guitarrista do Big Brasa tivesse um bom desempenho, assim como todo o nosso Conjunto Big Brasa.

Acertos com a produção e os imprevistos

Logo que chega à TV Ceará, aos sábados, passava pela produção e recebia o roteiro do programa. Conferia toda a parte musical, tirava alguma dúvida e depois ia me reunir com o pessoal do conjunto para dar uma revisada nas músicas (muitas vezes desconhecidas, o que nos dificultava um pouco). Mas havia os imprevistos! Algumas vezes, artistas de fora do Estado só chegavam em cima da hora, com o programa já no ar. E o apresentador, Augusto Borges, me chamava durante algum intervalo e dizia para eu ir passar as músicas rapidamente. Como um exemplo que marcou muito foi o Cauby Peixoto, que chegou com o programa iniciado. Eu peguei a guitarra e na sala de espera, que ficava ao lado do palco, rapidamente dele recebi uma sequência de dezoito músicas, que fizeram parte de um “pot-pourri” por ele cantado. Anotei a introdução para a primeira delas e as tonalidades seguintes. As mudanças foram feitas com muita tranquilidade e tudo deu certo, graças à experiência do Cauby em sinalizar, sutilmente, as passagens, mudanças, repetições etc. Esses fatos nos ajudaram muito, musicalmente. Não era somente o fato de saber tocar esta ou aquela canção e sim, de acompanhar o que viesse. Despertava assim também um sentido de atenção musical e até de improvisação para corrigir uma emendar alguma falha, muitas vezes imperceptível pelo público em geral.

Quadros do programa

Durante o período letivo um bom quadro figurava em destaque: o Colégio contra Colégio se encarregava de animar o programa suficientemente, pelas disputas entre os estudantes. Muita animação e disputas entre os estudantes, gincanas etc. Em uma das oportunidades uma das equipes me convidou para participar de uma gincana para tocar vários instrumentos. Então resolvi aproveitar todos os instrumentos de teclado, como acordeon, piano, escaleta, órgão eletrônico; os instrumentos de corda: guitarra, contrabaixo, cavaquinho, bandolim, banjo e violino; de percussão aproveitei tudo que tinha direito: bateria, tarol, surdo e um tantã; e por último piston, que sabia tocar duas músicas. Fiquei um pouco decepcionado porque os jurados dividiram o prêmio entre mim e um rapaz que tinha montado um rádio em uma caixa de papelão. Pode? São coisas que acontecem na vida, não é mesmo? Outro quadro interessante foi o Fora de Série, no mesmo formato que outros programas utilizavam no sul e sudeste do país, trazendo atrações muito interessantes, como mágicos, contorcionistas, pessoas que se propunham a comer quantidades enormes de frutas e coisas estranhas dessa natureza. Cheguei a ver uma levitação, outra vez um candidato que enfiava agulhas pelo corpo inteiro, sem que nada o ferisse. Este, por sinal, fez uma demonstração prévia para a produção, que eu assisti, no qual todos nós ficamos abismados com o show. Exigia como ele próprio nos disse, uma enorme concentração para poder conseguir realizar as perfurações. 

Ensaio geral do Show do Mercantil

Realizado às sextas-feiras, quando o roteiro do programa estava pronto. No que se refere à parte musical o conjunto Big Brasa ensaiava com os calouros todas as músicas, com introduções, até que ficassem no ponto, nem que fosse ao ponto de errar no sábado, como alguns faziam, face ao nervosismo... Depois desse ensaio geral as entradas das músicas eram repassadas de forma muito rápida, só para relembrar, no sábado, antes do início do programa, com o Conjunto Big Brasa no palco do programa, a postos. A título de curiosidade: por medida de segurança, aos sábados, eu chegava bem antes do horário, conferia todo o equipamento e ainda dava uma passada com os calouros ou cantores locais que fossem se apresentar.

Esta série continua no Capítulo VIII ainda com O Programa Show do Mercantil (Parte 2) com mais fatos e memórias interessantes sobre a TV Ceará

(*) Nota: créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical, dirigente do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará. O autor, como escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

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