domingo, 1 de setembro de 2019

Tempos de minha infância!

Há muitas recordações de minha infância que se mantêm de forma nítida, outras com traços menos fortes de memória, mas todas elas vívidas em nossa existência com marcas sempre presentes.

De São José dos Campos, São Paulo, minha cidade natal, eu recordo bem de nossa casa, a casa de minha avó e dos meus tios, da entrada grande, com muitas laranjeiras aos lados, do grande quintal, que ligava à casa de meu tio e de minha avó. Entretanto, lembro de poucos momentos em que nós brincávamos com colegas. Tudo era bastante diferente do que conhecemos aqui no Nordeste, a partir do clima, bastante frio. A maioria de nossos vizinhos era de origem estrangeira e, portanto, com outros costumes e cultura. Frequentei por alguns meses uma escola de Judô, de japoneses. Aprendi o básico, as maneiras de cair, alguns golpes de defesa etc. Gostava muito e não lembro o porquê da interrupção das aulas.

Convém falar sobre São José dos Campos, no Vale do Paraíba, que é o município sede de empresas como a Embraer, a Panasonic, General Motors e diversos institutos como o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, dentre vários outros órgãos importantes para o Brasil. Da cidade lembramos vagamente da Igreja de São Dimas, a qual o meu pai ajudou em uma das reformas com monsenhor Ascânio Brandão e do seguinte detalhe: que naquela igreja ficou um dos sinos com os nomes de meus pais gravados, Alberto e Zisile. Como vistas da cidade recordo do Banhado, um vale muito bonito, local que podia ser apreciado de um dos pontos principais da cidade. Também os passeios que eventualmente o Tio Raimundo me levava, o Riacho Vidoca; lembro também que assisti a um show da cantora Celly Campello; do Bar Pequeno, na entrada da Vila Ema, que não sei se ainda existe. A empresa de ônibus de São José para São Paulo se chamava Pássaro Marrom. Em minha última visita à cidade, eu a encontrei muito diferente, extremamente mais desenvolvida e movimentada, continuando a ser uma das maiores cidades paulistas.

São José dos Campos oferecia muita segurança: aos oito anos eu estudava no Grupo Escolar Olímpio Catão, no centro da cidade e pegava o ônibus sozinho, da Vila Ema até a escola! De calças curtas, fardado, eu ficava na parada esperando o transporte, incomodado às vezes pelo frio em determinadas épocas. Mas os veículos eram novos, limpos e não havia praticamente perigos de segurança como hoje em dia. Ia para o colégio e voltava sem problemas. Em alguns dias, com colegas de quem não lembro os nomes, descia na Esplanada, que hoje é um bairro, mas que naquele tempo eram campos gramados apenas, nós chegamos facilmente a laçar dois cavalos e neles andar um pouco. Para que tenham uma ideia, a subida nos animais era feita do muro da casa de meu tio Raimundo. Tudo escondido, até que um dia o dono dos animais nos viu, tomou a cordinha que amarrava os dóceis cavalos e ainda de brinde (tomou) as almofadas de meu tio, que usávamos em lugar de uma cela, depois de me passar um carão...  

Comecei a ler cedo, aos quatro anos e pouco. A televisão, que os meus pais possuíam, era uma de 14 polegadas, gabinete metálico e vermelho. Minha mãe me contava que eu prestava bastante atenção aos “slides” das propagandas, que facilitaram muito a associação de palavras e a leitura. Aliás, tenho que agradecer os inúmeros livros que eu li, todos comprados pela mamãe, Zisile ou presenteados. Dentre eles Contos de Andersen, de Grimm, a coleção completa de Monteiro Lobato, outra coleção “Antes que aprendam na rua” além da famosa enciclopédia “Tesouro da Juventude”. Sobre os livros, com toda certeza foram eles que me favoreceram a passar em concursos importantes na minha vida profissional. Eu me habituei e sempre li muito, na infância e por toda a minha vida.

A música: também iniciei os estudos de acordeon com a saudosa Dona Ivone, isso já aos sete anos. Tocava as melodias no teclado (Rosa Maria foi a primeira música) e ela segurava o acordeon e fazia o acompanhamento  nos baixos. Depois ganhei um de oito baixos de minha mãe, a qual só viria a ser substituída por uma de 80 baixos anos depois! Assim, eu levava o primeiro acordeon para a casa de Dona Ivone, estudava a aula com ela e voltava para casa na rua, tocando a música aprendida!

Dos brinquedos, lembro que eu tinha praticamente tudo o que eu criança poderia desejar, como pequenos carros militares, ambulâncias, aviões, soldados, índios, fortes, postos de gasolina e outros. Eu os distribuía em meu quarto para brincar, quase sempre sozinho.  Tinha uma bola, luvas de goleiro, mas não tinha um time nem colegas para jogar. Tivemos sempre animais de estimação, o nome Babu permanece até os dias atuais para os gatos e Rajá para os cães.

Os principais primos que mais recordo são a Rita de Cássia, a Mônica, o João Ribeiro da Silva Sá e a Maria Lúcia. Além do querido Tio João Ribeiro da Silva Filho (meu padrinho) e da Tia Maria, esposa dele. Ambos os tios, Raimundo e João, eram também grandes amigos de meu pai e eu gostava muito deles. Na foto ao lado, em frente de nossa casa, estou com a prima Mônica, a Rita de Cássia, o meu irmão Getúlio e dois outros colegas que não lembro mais os nomes. 

Dentre os diversos primos militares de nossa família alguns deles passavam as folgas de estudo conosco, em nossa casa. Principalmente o Wagner Ribeiro e o João Ribeiro da Silva Júnior (In memoriam) que se formaram na Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN, localizada em Resende (RJ), que é o único estabelecimento de ensino superior que forma os oficiais combatentes de carreira das armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, do Quadro de Material Bélico e Serviço de Intendência do Exército Brasileiro. O Pedro Augusto da Silva Neto, também meu primo, morava em Lorena e nós chegamos a visitá-los algumas vezes. Lembro que ganhei um capacete do Exército de meu tio, Pedro José da Silva Neto, então Coronel. Como gostava muito de acessórios militares, afinidade que guardo até hoje, foi um presente que gostei muito! Fui à AMAN com meu pai e meus tios a algumas solenidades de entregas de espadim ou de espada aos cadetes e oficiais. Lembro muito dos desfiles e dos alojamentos que eles me levavam para conhecer. A organização era impecável, festas bonitas.  

Muita diferença de hábitos eu senti quando fui passar umas férias na cidade de Balsas, Maranhão, onde meu pai nasceu. Empolgava-me com todas as novidades, entre elas a “lamparina” (pois a energia elétrica era provida de uma usina que funcionava até as 22 horas apenas). As brincadeiras com bolinhas de gude, carrinhos e aviões feitos com buriti, andar de bicicleta e ter colegas para brincar. Eu ficava admirado também pela maneira com que eram vendidos os refrigerantes, todos em sacos com raspa de madeira dentro para não quebrar.

Após nossa mudança para Fortaleza, no final de 1960, no início estranhei um pouco. Primeiramente pelos ônibus, que eram aqueles antigos, com frentes de caminhão. E a maioria deles velhos e não tão limpos quanto os de São José. Nas ruas eu via as placas “Beba Tai” e também ficava admirado... Isto porque “Tai” em São José dos Campos era uma marca de água sanitária e eu pensava, como o pessoal pode beber Tai?

Moramos inicialmente em Fortaleza no Bairro de Fátima, em uma rua ao lado do Ginásio Nossa Senhora das Graças. Depois mudamos para um apartamento no final da Costa Barros, que ficava em um prédio em frente ao Arcebispado. Nossas brincadeiras eram por perto da Igreja da Sé, ao redor, a maioria de “xerife” e cowboys. Posteriormente outra mudança para a Rua Mário Mamede, bem perto da Igreja de Fátima, uma temporada muito boa. Estudei em vários colégios, por causa dos deslocamentos, entre eles o Santa Lúcia, o Castelo Branco, o Colégio Cearense (marista), o José Barcelos, esse mais adiante.

Mais tarde, já bem ambientado e gostando muito da mudança para Fortaleza, onde melhorei muito minha saúde por causa do excelente clima, passei a morar em Messejana, com todos os encantos daquela época, muita segurança, trânsito calmo, clima agradabilíssimo, colegas para brincar e até formar um time de futebol, com nossos amigos e vizinhos. Brincar de “cowboy” era muito legal. E depois, um pouco mais adiante, jogar botão com times de “capas de relógio”, nas quais colávamos as fotografias dos jogadores de nossos clubes (o meu sempre foi o Ceará Sporting Club, hoje o nosso “Vozão”). Os campeonatos eram realizados em nossas casas, especificamente nas residências do Pedro Sérgio e Zé Wellington, na do Luís Peixoto e em nossa própria casa. Dos times de botão para o futebol de salão, no Colégio Cearense (onde fui campeão em 1965) e nos campinhos perto de casa, com as camisetas compradas de marcas simples e pintadas com tinta a óleo...  Foi em Fortaleza que efetivamente tive os meus primeiros contatos efetivo com a comunidade, através da interação com colegas de infância e mais futuramente também com muitas pessoas, quando na juventude participei do Conjunto Musical Big Brasa.

Minha infância foi muito feliz e dela tirei alguma iluminação, sem dúvida, além dos registros significativos que possuo até hoje. Partindo do princípio de que a felicidade não é constante, mas sim ela nos chega de ciclos em ciclos, assim como tudo mais em nossa existência, fica a minha eterna gratidão aos meus pais, em primeiro lugar, pela formação e exemplos que me transmitiram e que foram e estão sendo por demais úteis na minha vida. Agradeço também a todos que delas participaram, de uma forma ou de outra, na certeza de que tudo valeu muito, inclusive recordar novamente e compartilhar com os amigos e amigas.