MESSEJANA,
UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
Partindo de uma conversa com uma amiga,
comentei alguns fatos, locais, pessoas e casos desde que cheguei a Messejana,
em 1963 e ela sugeriu que eu detalhasse mais. E assim, com o texto
anteriormente publicado sobre o tema acrescentei mais algumas passagens e fatos
que certamente farão que você embarque em uma viagem a um passado distante, mas
ao mesmo tempo inesquecível em nossas vidas. Vamos juntos entrar em uma espécie
de Túnel do Tempo! Os itens não estão em ordem cronológica e tem o objetivo
apenas de avivar a memória de um tempo realmente muito bom de nossas vidas.
Seguem-se locais, atividades e pessoas que
merecem um destaque especial. Portanto é bom falar de Messejana, uma terra que
me recebeu muito bem e que pude curtir tudo aquilo que eu não fazia em São José
dos Campos, minha cidade natal, como jogar “bila” (bolinha de gude) em frente
de casa ou colocar navios de papel nas enxurradas, perto das calçadas e jogar
um futebol com os colegas, além de brincar de cowboy e muito mais, conforme
veremos Que tempos inesquecíveis. Apertem os cintos!
UMA
VIAGEM DE MESSEJANA PARA FORTALEZA
Quando hoje em dia nós estamos em Messejana e
dizemos “Vamos para Fortaleza”, os mais novos estranham e dizem que nós já
estamos em Fortaleza. O costume de falar assim decorre da distância entre
Messejana e o centro da cidade de Fortaleza, que não mudou até hoje, mas sim as
condições da estrada, hoje BR-116, duplicada, que nos tempos mais remotos era uma
via simples de mão dupla, muito estreita por sinal.
Quem saía de Messejana em direção à Fortaleza
passava pelo Convento dos Capuchinhos, em seguida ficava o bairro Cajazeiras, antes
do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), depois um estirão
passando pela Cidade dos Funcionários, ponte do Rio Cocó até a Aerolândia (quem
não lembra o Clube Recreativo da Aerolândia, o CRA?) e depois o ATAPU, nome que
ficou conhecido a entrada para Fortaleza? Pois bem, Atapu era o nome de uma
padaria que ficava na esquina da Avenida 13 de Maio, com a Avenida Visconde do
Rio Branco e ficou conhecido como referência para muitos. O percurso era
demorado. Quando, por exemplo, fui realizar o meu alistamento militar acordei
pela madrugada e fui para a pracinha. Dei sinal para um caminhão, carregado de
pedra, que vinha de Itaitinga e o motorista me deu carona em cima das pedras.
Desci do caminhão no ATAPU e fui andando até o 23º BC ou 10º GO para me
alistar. Deu tudo certo, apesar da viagem um pouco sofrida, uma verdadeira
aventura. Outra vez em uma greve de ônibus eu estudava no Colégio Cearense. E
saímos para Messejana ao final da aula, pela manhã, a pé. Seguimos com muito
sacrifício e conseguimos pegar uma carona apenas perto do DNER, que facilitou nossa
chegada. Mesmo assim chegamos mais de quatro horas da tarde, exaustos. O ponto
mais movimentado dessa viagem de Messejana à Fortaleza ficava nas
intermediações da Aerolândia, local onde ocorriam acidentes com mais frequência.
O CLIMA
DE MESSEJANA
Parece brincadeira, mas não é. Quando cheguei à
cidade de Fortaleza, em 1960, a capital tinha poucos prédios! Descendo da praia
do Futuro avistávamos pouquíssimos edifícios, bem no centro da Aldeota. Com
essas condições a ventilação se estendia para o sul de forma bem forte e
tranquila. Às madrugadas e manhãs em Messejana nós podíamos contemplar até
neblina! E quando chovia era para valer mesmo. Na Estrada do Fio se formavam
enxurradas e dava para a criançada toda fazer barcos e se divertir muito.
ARES
INTERIORANOS
Messejana tinha todas as características de uma
cidadezinha de interior. Muito pacata, por sinal. Uma de nossas diversões era
brincar de cowboy e jogar botão, mais tarde times de campinho um pouco maiores.
No meio da rua o pessoal fazia as traves com tijolos e o jogo se estendia por
muito tempo. Detalhe: de vez em quando alguém se abaixava, colocando o cotovelo
no chão e apoiando a mão na cabeça, tal qual índios faziam nos filmes, para
ouvir o barulho de algum carro se aproximando. E dizia: vem um caminhão aí,
pessoal. Uns quatro minutos depois o tal caminhão aparecia ao longe e
retirávamos as traves para que ele passasse. Depois disso o jogo continuava no
mesmo ritmo.
MUROS
BAIXOS E PLENA SEGURANÇA
Os muros das casas eram baixos, não havia cerca
elétrica, pichação, nem nada que perturbasse nossas vidas. Muito raramente um
roubo de uma roupa estendida no quintal e quando se sabia de uma tragédia,
também coisa rara, seria por conta de um afogamento da Lagoa de Messejana. E
muita gente ia presenciar a ação de bombeiros para atender a ocorrência. A
segurança era tanta que fazíamos já adolescentes serenatas pelas madrugadas,
nas casas de nossas amigas ou paqueras, na santa paz. Na realidade assalto era
uma palavra quase desconhecida para todos nós.
Até hoje encontro algumas pessoas que dizem ter assistido muito os
ensaios do Conjunto Big Brasa do muro!
AS
REDONDEZAS DA ESTRADA DO FIO
A famosa Estrada do Fio ficou assim chamada por
causa da fiação antiga existente dos tempos do telégrafo! De Messejana, em
direção leste, ia sair diretamente no Distrito de Mangabeiras, visto que não
havia ainda a Washington Soares, que continua na CE-040 hoje em dia. Quem
seguia de Fortaleza para Aquiraz, que foi antigamente uma das capitais
cearenses, tinha que passar por dentro de Messejana. A Estrada do Fio era de piçarra e barro mesmo.
Nos invernos ficava mais difícil o trânsito dos poucos veículos e por vezes as
máquinas de terraplanagem vinham consertar os estragos, nivelar tudo para o
verão cearense. Perto de nossa esquina funcionava a Bodega do Seu Paulo, que
também vendia caldo-de-cana e gêneros diversos. Construção bem antiga, balcão
de madeira. Lembro que os carregadores de caminhão que por ali paravam e faziam
suas refeições, de um detalhe que eu ficava impressionado: eles jogavam uma
farinha amarela em cima do balcão, para isolar do fogo e colocavam álcool em
cima. Com as chamas baixas assavam pequenos peixes que comiam com banana,
farinha etc.
Ainda perto existiam poucas edificações e muito
mato, na verdade. Em frente à nossa casa começava um mangueiral, lugar onde
começava a nossa caçada de passarinhos. Alguns meninos utilizavam as conhecidas
baladeiras para atentar os pássaros. Não havia ainda a consciência de que não
deveríamos atirar pedras nos passarinhos... Nossas caçadas às vezes começavam
pela manhã, com direito a sair de casa com uma mochila com alguma coisa para
comer e água, além do material necessário para a caçada. A região, por incrível
que possa parecer, era quase deserta e com muitos terrenos e matagais. E assim
nós andávamos quilômetros procurando passarinhos para caçar. Nas chegadas
tínhamos que tratar as pernas com mercúrio cromo, cheias de espinhos e
arranhões provocados pelo mato. Nunca houve nenhum incidente, por menor que
seja.
COBRAS
ENTRANDO NAS CASAS?
Muito comum ouvir alguém dizendo: “olha uma
cobra ali”, ao que se seguia uma intensa busca para eliminar o perigo. Eram
cobras, que de vez em quando entravam em nossas casas! Cansamos de encontrar
uma cobra jararaca dentro da casa e sempre alguém dizia: ela deve estar com a
mãe, significando que deveria ter outra... Mesmo assim nunca soube de nada
grave que tivesse acontecido neste aspecto, tirando o alvoroço e os sustos, é
claro.
BRINCADEIRAS
DIVERTIDAS
Na primeira semana em Messejana recebi em nossa
casa um vizinho, que depois se tornaria um dos melhores amigos de infância. E
ele me perguntou, em tom bem sério: - “Você pode me emprestar a estrela de
Xerife?” E eu emprestei, para que brincasse de cowboy. Muitas vezes eu fazia paraquedas com lenços
de cabelo da mamãe. Feitos de nylon eram leves e dava para amarrar os fios e
fazer paraquedas muito bons. Como pesos eu usava soldados de brinquedo ou
simplesmente amarrava umas pilhas de tamanho grande. Assim, os dobrava e jogava
para cima para ver o espetáculo. O paraquedas abrindo e a diversão seguindo...
Não sei bem se o amigo Ruy Câmara lembra-se disso, tendo em vista que um dos
locais de pouso ficava ao lado da casa dele.
DIVERSÃO
GARANTIDA COM A CHEGADA DOS CIRCOS
Acompanhei a passagem de alguns circos em
Messejana, com nossa turma comparecendo em peso! As bailarinas nos intervalos
circulavam pelas arquibancadas, nos oferecendo suas fotografias em tamanho bem
pequeno, para que comprássemos. E todos nós gostávamos muito daquelas lindas
artistas trazendo novidade para o nosso bairro. Espetáculos com bons palhaços,
trapezistas e até números de mágica e de levitação!
PARQUES
DE DIVERSÃO NA PRAÇA DA MATRIZ
Outra atração muito procurada eram os parques de
diversão que se instalavam na parte de baixo da Praça da Igreja, no lado da
Lagoa de Messejana. Alguns tinham rodas gigantes (não tão gigantes assim), além
de brincadeiras como pescaria, tiro ao alvo e também jogos como os de roleta.
Eu presenciei uma das vezes o “Dico”, jogador de futebol que gostava de jogar
na roleta, verdadeiramente “alisar” o dono do jogo, que interrompeu a roleta
antes do horário! O Dico parece que tinha uma técnica especial para jogar ou
então conhecia bem as manhas da banca de roleta e acertava bastante. Neste dia
ele fez a festa e ficou sendo o nosso ídolo daquele jogo, por ter falido a
banca de roleta...
O POSTO
TELEFÔNICO
Praticamente isolada pela falta de telefone,
poucas pessoas tinham poder aquisitivo para ter uma linha telefônica em sua
residência! Os aparelhos eram aqueles pretos, grandes e tinham uma manivela ao
lado que servia para acionar a campainha do posto telefônico. Que tecnologia! E
mesmo assim as ligações eram feitas da seguinte maneira: quem tinha telefone em
casa levantava o fone do gancho, acionava a manivela e a funcionária do posto
telefônico atendia. Então era pedida uma ligação e a atendente dizia que quando
completasse nos chamaria. Fornecido o número a ser chamado, era só esperar. Com
a ligação completada através de uma mesa telefônica manual e analógica, a
atendente chamava o número e dizia que ia passar a ligação. O único telefone
perto de nossa casa era o da Dona Nadir, da família Freitas, a qual sempre,
gentilmente, nos dava a oportunidade para pedir alguma ligação, assim como
mandava alguém para nos chamar quando ligavam para nós. O posto telefônico
ficava na Rua Padre Pedro de Alencar, trecho da antiga BR-116, a um quarteirão
da Lagoa de Messejana. As dificuldades
de comunicação eram grandes!
O PADRE
PEREIRA
O Padre Pereira era o vigário de Messejana nos
idos de 1963. Muito espirituoso, inclusive tem algumas passagens conhecidas
pelos messejanenses. Uma delas, quando ao reclamar das conversas ao lado da
Igreja na hora da missa, no meio de seu sermão bradou: “E Jesus disse aos seus
discípulos... Interrompendo: “cala a boca aí fora menino!”, e continuou o
sermão normalmente.
Em princípio, como tinha sido coroinha quando morava no bairro 13 de Maio, antes de nossa mudança para Messejana, cheguei a ajudar algumas missas com o Padre Pereira, mas desisti no dia que levei um “carão” dele certamente por ter invertido uma das orações (eram em Latim e a gente conhecia apenas a sequência). Uma hora ele me disse: “Reza direito, menino” e me mandou para a Sacristia. Foi a gota d’água e eu desisti daquela função.
Em princípio, como tinha sido coroinha quando morava no bairro 13 de Maio, antes de nossa mudança para Messejana, cheguei a ajudar algumas missas com o Padre Pereira, mas desisti no dia que levei um “carão” dele certamente por ter invertido uma das orações (eram em Latim e a gente conhecia apenas a sequência). Uma hora ele me disse: “Reza direito, menino” e me mandou para a Sacristia. Foi a gota d’água e eu desisti daquela função.
FUTEBOL NO
PATAMAR DA IGREJA
Joguei muito futebol no patamar da Igreja, à
noite, com os colegas. Diversão garantida. Quer fosse permitido ou não, o fato
é que a nossa turma se reunia acho que nos finais de semana para jogar bola e
brincar no patamar da Igreja Matriz, o ponto mais iluminado da área. E assim
jogamos inúmeras vezes até que um dia uma pessoa que se dizia agente de polícia
entrou no meio de nós e tomou a bola. Fim de jogo e todo mundo correu mesmo.
Não lembro se os jogos continuaram no patamar após essa intervenção, mas sei
que continuamos a jogar vôlei na pracinha, local onde todos se encontravam
muitas vezes.
BAZAR DA
FRANCISQUINHA LUCAS
Localizado perto da Praça da Matriz, ficava na Rua
Padre Pedro de Alencar, onde comprei muitas vezes baralhos e outras utilidades.
Ali trabalhava uma atendente muito prestativa (a Mazé) e o Pedro Jorge. No
bazar tinha de tudo, praticamente. A exposição das mercadorias era enorme e o
que se procurasse tinha!
A
GARAPEIRA
A garapeira ficava na mesma pracinha da Matriz,
mas do outro lado da BR-116, que em Messejana é hoje a Rua Padre Pedro de
Alencar. Não lembro o nome do dono, mas a garapeira era localizada próxima do ponto
do ônibus de Messejana por algum tempo. O caldo-de-cana e pastel de queijo era
o que mais vendia, logicamente.
RODOVIA
BR-116
Vale repetir apenas para os mais novos, que a
Rua Padre Pedro de Alencar, que passa em frente à Igreja de Messejana, era a
rodovia federal “BR-116” naqueles tempos e passava por dentro de Messejana. A
duplicação chegou muito tempo depois e durou mais de quatro anos para ser
concluída. Trouxe incômodos, é claro, mas foi uma obra muito necessária, tendo
em vista que até passou por fora de Messejana diminuindo assim o enorme tráfego
no centro do Distrito.
A AVENIDA
PERIMETRAL
Quem sabe onde era a chamada Avenida
Perimetral? Nada mais nada menos do que a atual Washington Soares. Mas na época
era conhecida somente por Avenida Perimetral e quem vinha de Fortaleza para
Messejana tinha que passar ao lado das salinas (toda a área onde foi construído
o Iguatemi) e depois seguir em frente em uma estreita via muito perigosa à
noite, simplesmente por quase não haver fluxo de veículos. Não existia nada
mais a não ser terrenos em ambos os lados. Nada de Centro de Convenções, Unifor
etc. Em frente dali a alguns quilômetros, tínhamos as Seis Bocas (onde hoje é o
Via Sul) e depois Messejana. Bom dizer que existia outra perimetral que ligava
Messejana a Mondubim e que hoje se encontra duplicada. Também muito insegura,
pelas mesmas circunstâncias. Os carros de polícia, nas eventuais vistorias ou
patrulhas em sua maioria eram fuscas, chamados por nós de Tetéus, que são aves
que passam a noite acordadas.
LAGOAS DE
MESSEJANA E DA PAUPINA
Tomei muito banho na Lagoa de Messejana, tendo
acesso pelo Balneário Clube de Messejana, onde em abril de 1967 estreou o nosso
Conjunto Musical Big Brasa. Mas também na Lagoa da Paupina! Ambas tinham água
limpa e funcionavam como verdadeiras praias para os messejanenses. Além do
Balneário Clube de Messejana existia também um pequeno clube, de uma associação
(FACIC) na entrada da lagoa da Paupina, que frequentávamos. Alguém lembra a
época em que a Lagoa de Messejana transbordou por muitos dias, cobrindo a
BR-116 inteiramente? Foi motivo de acompanhamento e observação de muitos
messejanenses.
BALNEÁRIO
CLUBE DE MESSEJANA
Foi o Clube onde o nosso Conjunto Big Brasa fez
sua estreia, tocando o prefixo And I Love Her, dos Beatles. Eu e meu pai fomos
sócios proprietários do Balneário Clube de Messejana. Frequentei o clube muitas
vezes e depois passaria a tocar nele, com o nosso Conjunto Big Brasa (inúmeras
vezes). O Clube chegou a realizar grandes festas com orquestras do sul do país,
renomadas. As tertúlias e as matinais também deixam saudade. Cheguei a tocar
até um carnaval no Balneário, com o Conjunto Big Brasa, além das centenas de
matinais e tertúlias e outras comemorações.
Vale lembrar o “Coquinho”, um dos garçons gente muito boa que sempre
atendia a nossa turma.
RADIOAMADORISMO
– o celular de hoje em dia
Quem tinha um aparelho de radioamador em seu
carro significava poder contatar muitas pessoas em diferentes situações, em
especial nas emergências. Viajei de carro para Brasília, pelo Maranhão,
Tocantins, podendo falar com todos os colegas o tempo inteiro, se precisasse.
Bastava apenas trocar as antenas. Mas, perto de casa, ainda com estação móvel,
existia o “beco”, que hoje é uma rua muito movimentada. O beco, entre a Estrada
do Fio e a Rua Manoel Castelo Branco, servia como ponto estratégico muito bom
para os contatos locais e com outros países, através do radioamadorismo, por
não ter interferências da rede de energia elétrica. Consegui falar com mais de
170 países nesta fase, além de participar da Rede de Emergência do Ceará,
auxiliando os órgãos de segurança. Meu prefixo era PT7-JSN e PX7-10.245. Minha
estação, potente, chegava com facilidade à praticamente todos os locais.
Cheguei a fazer um QSO (contato) com uma cidade japonesa, o que significa que o
sinal de rádio foi até a ionosfera, baixou para o oceano, subiu de novo até
chegar à outra cidade. O contato foi muito breve porque a propagação caiu, mas
recebi a comprovação, com o cartão de QSL do amigo radioamador japonês. Tinha
uma antena direcional de 12 metros de largura, que cobria a casa quase que
toda. E uma torre de 25 metros para as frequências de 2 metros. Conto estes
detalhes para quem usa hoje com os celulares, saber das dificuldades da época e
como o radioamador poderia ser útil em várias situações.
FUTEBOL
DE BOTÃO
Jogamos muito, com o Luís Peixoto (irmão das
amigas e vizinhas Auristela e Auricélia), Pedro Sérgio e José Wellington, o
Sérgio Alves e o Amaury Pontes. Eram partidas animadíssimas, nas quais nós
mesmos ao jogar “irradiávamos” o jogo! Os campeonatos eram muito disputados.
Ainda hoje tenho um time “Ceará” feito com capas de relógios, nas quais
colávamos as fotografias dos jogadores retiradas dos “quadros” dos jornais.
FUTEBOL
DE CAMPO
Tive um time! Camisetas brancas, bem simples, pintadas
com tinta a óleo preta, com apenas algumas listas transversais. Nosso pessoal
jogava no campinho, localizado em um terreno quase em frente à nossa casa.
Todos ajudaram a fazer o campinho, com traves e tudo. Alguns times da Paupina
apareciam para jogar. Em uma dessas ocasiões o time adversário colocou um
jogador bem mais velho do que nós. Deveria ter mais de 18 anos e ficou um jogo desproporcional.
Começamos a perder feio. Foi aí que o nosso grande amigo de infância Célio
Freitas (in memoriam), entrou em nosso time e conseguimos ganhar o jogo pela
participação dele! O Célio e eu, nas férias escolares, jogávamos baralho quase
todas as manhãs. Ele tinha uma caderneta e anotava todas as partidas, assinando
aquelas que ele ganhava, ou seja, quase todas. Eu voltava para casa frustrado,
mas ao mesmo tempo com vontade da revanche no dia seguinte.
O ZÉ DA
SENHORA
Quem conheceu o Zé da Senhora? Era um jogador
do time Messejana, salvo engano. Quando ganhei meu primeiro violão, não sabia
nem afinar as cordas. E fui até à casa do Zé da Senhora por indicação de um
amigo. Ele me recebeu em sua casa e com toda boa vontade afinou o violão,
passando as dicas de afinação. No outro dia novamente eu estava lá para
conferir. E aproveitei para começar a aprender a Marcha dos Marinheiros, que
ele tocava muito bem. E assim foram algumas vezes até que eu aprendesse alguns
solos com ele. Minha eterna gratidão por essa pessoa amiga!
O
BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
Localizado às margens da Lagoa de Messejana, na
qual, segundo a lenda, e o escritor José de Alencar, Iracema, a “virgem dos
lábios de mel”, tomava banho e saía correndo até a Praia de Iracema, chegando a
seu destino ainda com os cabelos molhados, tal a sua rapidez. O Balneário Clube
de Messejana tinha uma extensa área verde ao redor do salão, bem arborizada,
formando um espaço muito agradável para seus frequentadores. O clube possuía
uma arquitetura simples, sendo amplo e bem estruturado, no que se refere ao
salão de dança e palco. Deixava a desejar pela precariedade de suas instalações
de secretaria, bar e da própria fachada.
A vista do Balneário era muito bonita, tendo
como cenário a belíssima Lagoa de Messejana, que às tardes nos proporcionava um
pôr-do-sol magnífico, com cintilantes reflexos em suas águas. Nas manhãs dos
sábados e domingos, podíamos ver algumas velozes lanchas circulando a lagoa, em
passeios que deviam ser muito agradáveis. Naquela época, como ainda hoje,
aquilo era privilégio de gente rica. Nossa turma frequentava o Balneário para
jogar pingue-pongue, tomar banho de lagoa, jogar bola, paquerar e dançar nas
tertúlias. Praticamente toda a pequena comunidade de Messejana se encontrava no
Balneário. Todo mundo se conhecia. Vivemos, sem sombra de dúvidas, a fase áurea
do Balneário de Messejana. Nessa época tínhamos uma Comunidade, na verdadeira
acepção da palavra!
O
CONJUNTO MUSICAL BIG BRASA
O nosso Conjunto Musical Big Brasa estreou, com
sucesso, no Balneário Clube de Messejana, no dia 28 de abril de 1967, véspera
de meu aniversário. Vivemos todos os anos do conjunto, um período inesquecível!
O Conjunto Big Brasa completou 50 anos de fundado em abril de 2017. O grupo
marcou uma significativa presença na televisão cearense, em bailes e outras
apresentações em Fortaleza e pelo Nordeste. Realizamos várias promoções
musicais e bailes no Recreio dos Funcionários, no Balneário de Messejana e no
Tremendão. O nosso conjunto Big Brasa
chegou a tocar um carnaval inteiro no Balneário Clube de Messejana, ocasião que
contratamos instrumentistas de sopro para complementar a orquestra
carnavalesca.
O meu pai, Alberto Ribeiro da Silva (in
memoriam) também se envolveu muito por Messejana tendo sido diretor do
Balneário por algumas temporadas, além de ser o mentor do Conjunto Big Brasa. O
Conjunto musical Big Brasa, desde sua fundação, em 1967, promoveu muito
Messejana. Foi uma iniciativa pioneira, que deixou uma marca de inventivo para
outros jovens. No mês de abril de 2017 completou 50 anos de fundação, um
aniversário que foi comemorado em vários encontros musicais, inclusive em
outros estados.
AMIZADES
DE INFÂNCIA
Faziam parte de nossa turma de amigos e amigas
o Aderson Alencar, Diony Maria Alencar, Fernando Hugo Colares, Cesar Barreto,
Severino Tavares, Roberto Tavares, David Lélis (in memoriam), Luiz Antonio
Alencar (o querido Peninha), Ruy Câmara, Dionísio Alencar, Zé Antônio, Luciano
Vasconcelos, Salomão Sales, Rita Porto, Aurélio Barroso, Lúcia Ribeiro, Vera
Lucia Colares, Didico, Everardo e Jamson Vasconcelos, “Titico” Benevides,
Simone, Paulo Afonso, Célia e Eudásio, Liduína Barroso, Yolanda, João
Guilherme, Lucinha, Verônica, Auristela, Auricélia e Socorro Peixoto, Fátima
Oriá, Célia Alencar, Pedro Ricardo Eleutério (meu amigo - in memoriam) Chico Zé
Alencar, Martiniano Coutinho, Penha Amorim, João Dummar Filho, Adalberto Lima,
Carló (Carlomagno Lima (in memoriam) Cida Alencar, Solinésio Alencar, Célio
Freitas (in memoriam), Loló e Raimundo José Vasconcelos, Antonio de Miranda
Leitão, Chico Zé – in memoriam (do Valdir Bento), Adriana Célia, Rosângela Almeida,
Adriano e Rogério Almeida, Clodomir, Edson Girão, Miguel Reinaldo, Luís Antonio
Alencar e o Luís Antonio Oriá (Dr. Oriá), que estudou comigo no Colégio
Cearense, Inácio Oriá, Pedro Sérgio Melo e José Wellington Freitas de Melo,
Célio Freitas e muitos outros que a memória talvez tenha deixado escapar
momentaneamente.
O FUTEBOL
EM MESSEJANA
Eram dois times principais, o Messejana Esporte
Clube e o Salgado da Gama. Cada um com seu estádio próprio. Nas tardes de
domingo era uma das opções. Eu tive um pequeno time de futebol com amigos,
dentre eles o Pedro Sergio Melo e o José Wellington de Freitas Melo. Jogamos
muito no Copacabana, no campinho, no Messejana e batemos bola no Campo do
Salgado. Conheci muito o Pinha (in memoriam), que jogou no Salgado da Gama, no
América Futebol Clube e também foi contratado para jogar um período em São Luís
do Maranhão, onde fez muito sucesso. Por vezes eu fazia ginástica no América
Futebol Clube, quando o Pinha jogava na agremiação. Às vezes também joguei bola
no quintal da casa do Fernando Hugo (que ficava ao lado do Banco do Brasil de
hoje). Bons e saudosos tempos. Vale mencionar também as partidas de futebol de
salão na URJA, sempre disputadas. Há alguns anos, através do Portal Messejana cheguei
a fazer uma entrevista com o Dodô, um dos principais jogadores da época em
Messejana, que jogou no Salgado da Gama e no Messejana Esporte Clube.
O
RESTAURANTE TREMENDÃO
Ficava às margens da Lagoa de Messejana e era
um recanto muito agradável. Passou por muitas administrações e hoje se encontra
com o prédio praticamente em ruínas e vandalizado. Frequentei o Tremendão
dezenas de vezes e realizei o lançamento de meu primeiro livro sobre o Conjunto
Big Brasa, em 1999, em uma festa muito animada da qual participaram excelentes
bandas locais, como Os Faraós, O Túnel do Tempo, Remember Beatles, O Conjunto
Big Brasa, com muitos componentes e Os Rataplans.
A FEIRA
DE MESSEJANA
Frequentei e ainda vou de vez em quando à
feira, considerada uma das maiores do Ceará. Lá se encontra de tudo! Havia uma
loja, localizada na praça da feira, que era do Sr. Alfredinho. Muito boa e
cheia de utilidades. Era uma das melhores. A feira expandiu muito e ainda nos
dias atuais é muito grande, com uma variedade de produtos impressionante.
SERENATAS
Naquela época em que havia mais romantismo, com
músicas que possuíam melodias e letras rebuscadas, fizemos muitas serenatas
para nossas colegas, uma época em que a tranquilidade reinava em Messejana e
podíamos nos divertir em paz. Fizemos muitas serenatas para as colegas de
infância e juventude. Não posso esquecer e destacar um fato pitoresco que
aconteceu com nosso grupo de amigos em uma serenata: na casa da família Pompeu,
ao tocarmos aquela música que dizia: “Vento que balança, as palhas do
coqueiro”... Muito bem, nesta hora o Luciano Vasconcelos subiu em uma das
palhas do coqueiro anão, existente no local e começou a fazer uma sonoplastia,
balançando as palhas. Não esperava que elas não suportassem e de repente foi ao
chão, quando todos riram incontrolavelmente e a serenata se desfez. Uma
vídeocassetada, na realidade!
A
FARMÁCIA DO SEU ROCHA
É importante destacar que eu conheci muito o
seu Rocha, que era uma excelente pessoa e um farmacêutico que me ajudou muito
em minha infância e juventude. Messejana era longe de tudo e pessoas como ele
ajudavam a população local demais. Prestou inestimáveis serviços para a
comunidade de Messejana. E hoje em dia sou amigo dos filhos dele, em particular
o Kildare Rios, um excelente músico.
O DR.
JOSÉ MAURO
Quem não lembra o Dr. José Mauro (in memoriam),
um bom dentista que tinha seu consultório na Rua Joaquim Bezerra, na Praça de
Messejana. A maioria de nós se valeu dos bons serviços prestados por ele.
A
CRISMALHAS
Conhecemos muito o Seu Vasconcelos (da
CRISMALHAS - quem lembra?). Pai do Luciano (Ciano Vasconcelos), Jamson
Vasconcelos e Everardo Vasconcelos, todos bons amigos até hoje. Uma
curiosidade: estava eu em Manaus, na Zona Franca, quando ao fazer algumas
compras eu avistei uma camisa, em um mostruário, que para mim era a mais bonita
de todas. Pedi imediatamente para o vendedor me mostrar. E ao examinar a bonita
camisa notei a etiqueta, que dizia “Crismalhas – Messejana – Fortaleza –
Ceará”. Era uma das camisas que a fábrica usava para exportação! Belíssima.
MATERNIDADE
DE MESSEJANA
A Casa de Saúde Maternidade Jesus Sacramentado,
ou simplesmente a Maternidade como chamávamos, era praticamente a única solução
de atendimento médico em Messejana, tendo em vista que ainda não existiam o
Frotinha, Gonzaguinha, as UPAs etc. Todos a ela recorriam para os diversos
fins, fraturas, exames, consultas e tudo relacionado à saúde, mas
principalmente atendia às gestantes e aos partos. Prestou inúmeros serviços à
comunidade messejanense e bairros adjacentes. Localizada na Rua Pergentino Maia
e pertencia ao Dr. Parayba – in memoriam.
AS
OFICINAS DE CARROS
Temos que destacar as oficinas do Faúna, que
ficava na BR-116, quase em frente ao Seminário Seráfico, local que passamos
muitas horas para consertar nossos jipes e outros transportes, no início. Havia
também a oficina do Zé Amarelim, como era chamado, que ficava perto do posto de
gasolina da Família Serpa, embaixo de umas mangueiras. Ali trabalhava o
mecânico “Maracanã”, que naquele tempo, quando era chamado para consertar os
nossos carros, dizia antecipadamente, sorrindo: “pode comprar um condensador e
um platinado”, sem nem verificar o defeito... E todo mundo ria disso.
A DONA
CHIQUINHA
Em vez de ir ao Shopping como fazemos hoje em
dia, tínhamos a Dona Chiquinha! Ela fazia nossas camisas e calças. E muito bem,
porque o seu trabalho era sempre caprichoso e de grande perfeição. Ainda mora
em Messejana. E a ela somos muito gratos.
O SEU
CAPOTE
Era um bom torneiro mecânico e muito solicitado
por todos para os reparos nos motores e tubulações em nossos poços. Possuía as
chaves inglesas bem grandes, capazes de trabalhar com canos largos e isso era
fundamental.
O FAMOSO
“SEU ZÉ”
Andei muito de ônibus com o “Seu Zé” (Zé Bitu),
motorista calmo e gente boa, que nos levava ao Colégio Cearense todos os dias.
A turma dizia sempre para ele “tira o pé do freio, Seu Zé!”, porque ele dirigia
sempre com a velocidade normal e correta! E deixava a gente ir na frente,
encostado no motor, quando não havia mais lugar. O Seu Zé, pelos cuidados que
mantinha com os veículos que dirigia, era contemplado sempre com os ônibus
novos que eram adicionados à frota.
OUTRAS
BRINCADEIRAS
- Montamos triciclos, com o Luciano Vasconcelos
(junção de duas bicicletas) e conheci um poço que dava vazão a gasolina por um
período – (descobrimos o mistério depois: era por conta de um vazamento da
bomba de gasolina do pai do Zé Antonio, da Panificadora Nogueira, cujo depósito
teve uma avaria e começou a vazar).
- Fazíamos, por pura brincadeira, umas
passeatas cantando e segurando velas, como se fosse alguma seita. O Luciano
Vasconcelos certamente lembra como eram. Normalmente iniciadas em frente da
antiga casa dele, na Avenida Frei Cirilo, até a pracinha da Igreja;
- Frequentei também algumas vezes o Zé Leão
para comer bifes com coca-cola;
- Jogava sinuca com colegas e amigos, inclusive
o Sr. Crispim (in memoriam), que era o dono da Farmácia) bem em frente onde é
hoje a farmácia principal da família; conheci também o Seu Neto (farmácia na
pracinha).
- Fui muitas vezes acampar na Abreulândia (era
a maior tranquilidade), passei finais de semana na COFECO, fui festas no clube
de lá também;
- O barzinho “SUBMARINO AMARELO”, na estrada do
fio onde nossa turma se encontrava muitas vezes antes de sair em nossos jipes
para passear!
COLÉGIO
JOSÉ BARCELOS – O “TREM”
Estudei três anos no José Barcelos. Alguns dos
professores que lembro: Isolda (inglês), João Batista (Ciências), Sérgio
Benevides, Paulo Aguiar (Matemática), Zuleika Oriá, Bartolomeu Brandão dentre
outros. O Sindô (não sei a grafia se está certa) era o vigia e porteiro. A Dona
Célia Benevides foi uma das diretoras na época.
A MÁXI
INFORMÁTICA
Uma iniciativa pioneira surgiu mais uma vez
quando montamos, mais à frente, a primeira Escola de Informática de Messejana -
a MÁXI INFORMÁTICA, que atendeu e formou mais de dois mil alunos. Ainda hoje
recebemos ligações telefônicas de ex-alunos procurando seus Certificados, uma
segunda via, ou mesmo querendo fazer cursos de informática.
O PORTAL
MESSEJANA
Criamos depois o Portal Messejana (que é o
sítio na internet do Instituto Portal Messejana, que tem a finalidade de
divulgar Fortaleza e o Ceará. Atualmente o Instituto Portal Messejana é uma
entidade de utilidade pública, uma Associação sem fins lucrativos, reconhecida
pelo governo federal, estadual e municipal (uma OSCIP);
MESSEJANA,
UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
É a frase que iniciei este texto e que
acrescento novamente ao final. Um abraço aos amigos e amigas e se Deus quiser
ainda faremos mais alguma coisa aqui pelo bom distrito de Messejana.
João
Ribeiro da Silva Neto
Em
novembro de 2019