sábado, 30 de novembro de 2013

Recordações do Balneário Clube de Messejana


Quem morava em Messejana, de Fortaleza, Ceará, conheceu e curtiu muito o Balneário. Dançou ao som de orquestras famosas, tomou banho na Lagoa de Messejana e aproveitou bem as matinais e tertúlias, muitas delas animadas pelo Conjunto Musical Big Brasa. O Balneário Clube de Messejana, de saudosas recordações, completaria 53 anos de existência em setembro de 2013.

O BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
 
O Balneário Clube de Messejana, às margens da Lagoa de mesmo nome, era o centro das badalações e onde aconteciam as tertúlias e matinais dançantes. Muito bem freqüentado, foi palco de inúmeras festividades marcantes no cenário local.

Sua sede ficava às margens da Lagoa de Messejana, na qual, segundo a lenda, e o escritor José de Alencar, Iracema, a "virgem dos lábios de mel", tomava banho e saía correndo até a Praia de Iracema, chegando a seu destino ainda com os cabelos molhados, tal a sua rapidez.

A vista do Balneário era muito bonita, tendo como cenário a belíssima Lagoa de Messejana, que às tardes nos proporcionava um pôr-do-sol magnífico, com cintilantes reflexos em suas águas. O Balneário Clube de Messejana tinha uma extensa área verde ao redor do salão, bem arborizada, formando um espaço muito agradável para seus freqüentadores.

O clube possuía uma arquitetura simples, sendo amplo e bem estruturado, no que se refere ao salão de dança e palco. Deixava muito a desejar pela precariedade de suas instalações de secretaria, bar e da própria fachada.

A LEMBRANÇA DO BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA E DO CONJUNTO BIG BRASA

Não de pode falar no Balneário sem associar ao Conjunto Big Brasa, que ainda hoje é reconhecido e admirado por muitos e deixou sua marca registrada na memória de seus amigos e amigas. Talvez invejado por alguns, que jamais tiveram o gostinho do sucesso e a imagem difundida através da televisão e do rádio por milhares de fãs por todo o Estado do Ceará. Essa característica deveria conferir à banda no mínimo um respeito e um sentimento de gratidão pelo que fez musicalmente por Messejana e pelas suas atuações no Balneário Clube de Messejana, gratuitamente ou sempre recebendo bem abaixo dos valores de mercado da época, "para se promover", como diziam alguns.

AS MÚSICAS DO BALNEÁRIO DE MESSEJANA

Inaugurado no início dos anos 60, o Balneário Clube de Messejana notabilizou-se pelos eventos bucólicos à beira da Lagoa de Messejana. As festas aconteciam geralmente aos sábados, já que na época a sexta-feira ainda não reinava absoluta no final de semana. Bandas de baile famosas na cidade como Alberto Mota e seu conjunto, Ivanildo e seu conjunto, Paulo de Tarso e Ivan e seu conjunto eram as opções da época.

Eram conjuntos como se chamava na época assentados numa formação basicamente de metais, saxofone, piston, trombone de vara, um contrabaixo acústico, e um violãozinho elétrico fazendo umas marcações bem tímidas, ligado em um amplificador que mais parecia um rádio antigo daqueles valvulados. Guitarra elétrica nem sonhar, isso nos idos de 1963, 1964. O repertório consistia de rumbas, merengues, mambos, boleros, foxtrotes, sambas canções, samba tradicional e coisas bem ao gosto das festas da época. Orquestras de renome internacional como Tobias Troisi e Casino de Sevilha também marcaram presença no Balneário que consistia de uma entrada coberta com uma lâmpada fluorescente, e uma área que fazia às vezes de salão de danças e quadra de esporte. Decorativo mesmo só a lagoa com seu visual bucólico e inspirador.
As indumentárias festivas eram terno e gravata para os homens com toda brilhantina no cabelo a que tinham direito, e vestido de festa e muito laquê no cabelo que deixava o penteado duro e arpoado e com um cheiro bem característico.

O bar ficava a cargo do “seu” Moacir Almeida, muito simpático, e um dos garçons mais freqüentes e tradicionais era o “coquim”, servindo cerveja, e fartas doses de cuba-libre, Ron Bacardi, Merino ou Montilla com coca-cola para os homens que fumavam seu cigarro continental sem filtro. Os mais abonados encaravam um uisquinho.

AS TERTÚLIAS DE RADIOLA

Na ausência das festas ocorriam as tertúlias, geralmente aos domingos à noite após a missa. A velha radiola com duas caixas de som voltadas para o salão jogava na brisa da lagoa, Poly e sua guitarra havaiana e Ray Conniff e sua orquestra, que eram os long-plays de vinil mais executados. O Cláudio Amorim fazia às vezes de discotecário e as tertúlias corriam românticas, servindo de ponto de partida para muito namoro e até casamento na Messejana. Quando o namoro começava a engatar, se deixava a namorada ou pretendente a namoro em casa, já que morava todo mundo perto do balneário, na área urbana da Messejana dos anos dourados. Foram tantas as emoções. "

MESSEJANA E O CONJUNTO MUSICAL BIG BRASA
Messejana na década de 60 era um distrito plenamente residencial, tanto é que a pracinha da matriz, a Praça Tristão de Alencar, parecia uma enorme sala de visitas, com todos morando no mesmo espaço, as pessoas se encontrando na praça, e as famílias sentadas nas rodas de calçada, de modo que todo mundo convivia no mesmo espaço, partilhava das mesmas novidades e experiências.

As amplificadoras, as tradicionais irradiadoras, faziam parte do cotidiano sem incomodar ninguém, já que todo mundo estava mesmo acostumado.

Quem morava na praça, era despertado pela irradiadora da paróquia, pois de manhã bem cedo, quando o dia começava a despontar de leve , o vigário local, Padre Francisco Pereira, jogava música sacra a todo volume para quem quisesse ouvir, e convidava com insistência a população para a primeira missa a ser celebrada. Não tinham quem não acordasse.

Mais tarde, a URJA (União Recreativa José de Alencar), que era um clube que ficava na praça e abrigava o Messejana Esporte Clube, um dos times de futebol local, abria a sua amplificadora e eis que a música tornava a invadir a praça de Messejana, só quem em estilo diferente do Padre  Pereira.

Eram tempos tranqüilos, se podia varar madrugada sentado nos degraus do patamar da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a igreja local, enfronhado em altos bater papos, ou a farrear pura e simplesmente até o nascer do sol.

Como só havia um canal de televisão no Ceará e ainda em preto e branco, a TV Ceará Canal 2, cuja programação se situava em horários limitados, as pessoas interagiam mais, saíam mais de casa para conversar já que nem todo mundo tinha televisão, e essa mesmo, só funcionava do final da tarde, até as onze horas da noite ou um pouco mais, de modo que o rádio ainda era a grande vedete.

O SURGIMENTO DO CONJUNTO BIG BRASA

Até quem em 1967, surgiu o Conjunto Big Brasa, uma banda formada por jovens de Messejana que a partir de serenatas para amigos e namoradas, tiveram a idéia de formar um conjunto de iê-iê-iê, que era como se chamavam as bandas de Jovem Guarda da Época.

Com o apoio do contador Alberto Ribeiro da Silva, seu filho João Ribeiro (que ficou conhecido no meio musical como “Beiró”), e mais alguns adolescentes messejanenses, o rock, ou o pop rock dos anos 60, chegou ao Balneário de Messejana.
As guitarras eram artesanais no início, feitas aqui mesmo pelo grupo Rataplans, excetuando uma guitarra Ritmo II da Gianinni, e com o tempo, os instrumentos foram se modernizando.

Em pouco tempo, o Big Brasa foi sendo adotado pelo Balneário como a banda da casa, tocando as matinais, tertúlias e festas do Balneário. Era gostoso tocar olhando para o azul da lagoa, e sentir que se estava colaborando para que as coisas mudassem um pouco em Messejana. Ao longo da segunda metade da década de 60, o Big Brasa marcou presença no clube, principalmente nas tertúlias. Era o tal esquema- Todo mundo se reunia na praça na hora da missa dos sábados e dos domingos, e se mandava para o balneário dançar e ver o Big Brasa tocar, e trazer a músicas dos anos 60 para Messejana, colaborando para arejar os costumes e fazendo com que as pessoas ficassem mais alegres e descontraídas.

Eram tempos de muita pureza e inocência, que permitiam que uma paquera se resumisse em dançar com a menina que estava a fim e a fosse deixar em casa por volta da meia noite ou uma hora da manhã, em uma época em que se podia percorrer tranqüilamente as então bucólicas ruas de Messejana. Eram tempos castos, de muita inocência e muito sonho, e o Big Brasa fez a sua trilha sonora. Quem os viveu jamais esquecerá.

DESTAQUE DO BIG BRASA - Livro, fotos e episódios



O Conjunto Musical "Big Brasa" teve início em 1967 e permaneceu ativo até 1978, atuando na TV Ceará - Canal 2, pertencente à extinta Rede Tupi de Televisão. Animou bailes na maioria dos clubes de Fortaleza e em praticamente todo o interior do Ceará e estados vizinhos. Marcou presença em centenas de eventos importantes, levando o nome de Messejana a todos eles. O grupo musical, liderado pelo seu guitarrista-solo João Ribeiro, acompanhou várias personalidades musicais brasileiras e também esteve presente com o Pessoal do Ceará, inclusive Ednardo, Belchior, Jorge Melo, Raimundo Fagner e outros. Na foto ao lado vemos Severino Tavares (baterista), João Ribeiro (guitarrista-solo), Lucius Mais (contrabaixista), Adalberto Lima (tecladista) e Edson Girão (guitarrista e vocalista).

Além disso, o Big Brasa estava presente nos lares dos fortalezenses diariamente por mais de 3 anos através do programa diário " Studio 2 ", exibido pela extinta TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi de Televisão. Dessa época resultou um livro escrito pelo seu guitarrista-solo, João Ribeiro (o Beiró) - "O Big Brasa e minha vida musical", lançado em 1999 em Messejana com uma brilhante noite festiva que teve a participação de quatro bandas locais, que foram Os Faraós (em sua formação original, tendo à frente o guitarrista-solo Luisinho e depois com a participação de seu também integrante João Ribeiro, (atuando como tecladista), o próprio Big Brasa, (que se apresentou com muitos de seus integrantes), o Túnel do Tempo, liderado por Sebastião Magalhães e o grupo Remember Beatles, com seus excelentes músicos. O show foi imperdível!

UM LIVRO SOBRE OS ANOS 60 E A HISTÓRIA DO CONJUNTO BIG BRASA

Muitos anos depois desta época inesquecível, em 1999, um dos integrantes e fundador do Conjunto Big Brasa, o guitarrista-solo João Ribeiro (conhecido no meio artístico por "Beiró") escreveu o livro "O BIG BRASA E MINHA VIDA MUSICAL", que foi lançado oficialmente em uma espetacular festa realizada em jan de 1999 no restaurante Tremendão, em Messejana, Fortaleza - Ceará.

Este evento teve grande repercussão na imprensa local e contou com a participação de nada menos do que quatro conjuntos de sucesso de Fortaleza, que foram "Os Faraós" e "Big Brasa", da época dos Anos 60, com presença de quase todos os seus integrantes. Também participou o Túnel do Tempo, de Sebastião Magalhães e o atual Remember Beatles".

Amigos, familiares (com as novas gerações), contemporâneos de bailes, conhecidos, fãs, enfim, presença maciça que marcou uma etapa de vida para muitos da comunidade messejanense.
O evento foi gravado e trechos exibidos nos principais canais de televisão de Fortaleza. Algumas fotografias foram selecionadas e estão em uma galeria de fotos do Portal Messejana, para que você possa recordar!

Homenagem ao Mestre Alberto

Um dos apoiadores e vibrante "Pai" do Big Brasa foi sem dúvida Alberto Ribeiro da Silva, falecido em 2001, mas que sempre estará vivo em nossa memória e pelos seus gestos e atitudes. O "Mestre Alberto" como era conhecido, esteve à frente da diretoria do Balneário por um período e lutou contra vários preconceitos existentes naquela época e que hoje, certamente, seriam considerados crimes. Foi também sócio proprietário do BCM, conforme se observa pela ação abaixo. 




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