sábado, 1 de dezembro de 2018

Uma lição de vida sobre o valor do trabalho

Criança, ainda muito novo, com uns sete anos de idade. E lembro tudo como se tivesse ocorrido hoje! É incrível como algumas passagens de nossa vida se tornam significativas a ponto de fixarem pontos de memória, traços indeléveis. É claro que minha saudosa mãe deve ter repetido a história para mim algumas vezes, mas é fato que o resultado produzido foi muito bom e eu agradeço muito pela lição bem transmitida pelo meu pai, Alberto Ribeiro da Silva (in memoriam).

Um dia em nossa casa de São José dos Campos, entre nossas conversas o papai me perguntou:

- “João Ribeiro, quando você crescer em que gostaria de trabalhar?”
E eu respondi sem pestanejar:
- “Quero ser engraxate, papai”.

E ele em seguida fez um gesto de aprovação e disse que iria providenciar o material completo para que eu aprendesse e aprimorasse o meu serviço como engraxate. Alguns dias mais tarde papai retornou do trabalho com uma caixa daquelas que os engraxates usam. Não sei como ele a conseguiu, se comprou ou se pediu para alguém fazer. Além daquele equipamento vieram também acessórios completos, como flanelas, panos de polimento, tintas, graxas de cores diferentes, escovas, enfim tudo o que um bom engraxate utiliza. Felicidade total a minha, com o trabalho que ali se iniciava. Devo ter engraxado os sapatos dele, não lembro direito, os meus e o de meu tio Raimundo para treinar. E haja brilho! Os sapatos ficavam muito caprichados, pelo zelo com que eu os tratava.

Muito bem: para melhorar ainda mais as coisas o papai em outro dia chegou com uma sacola de pano, que para mim era bem grande, contendo vários pares de sapatos de colegas da repartição que ele trabalhava - o Departamento de Estradas de Rodagem de São José. Assim o material para o serviço chegava às minhas mãos. Eu fiquei muito
o empolgado e durante a semana trabalhei com afinco, limpando, pintando (se fosse preciso) e engraxando todos aqueles sapatos, no sentido de que tudo ficasse muito bem feito. Com o serviço pronto cheguei para o papai e entreguei para ele os sapatos todos devidamente polidos e brilhando para serem devolvidos para seus donos. Não sabia que estava fazendo aquilo por dinheiro ou nem tinha ideia exata de uma cobrança pelo serviço executado. Fiz o melhor que pude, sem pensar que ganharia alguma coisa. E o papai levou aqueles sapatos todos de volta para seus colegas.  


E assim as semanas foram se passando e de vez em quando ele chegava do trabalho com mais sapatos e me entregava para que eu os engraxasse. Até que um belo dia veio à grande surpresa: ele chegou do trabalho, me chamou e disse, explicando calmamente tudo para mim. Falou mais ou menos o seguinte:

- “João Ribeiro, olhe aqui o que mandaram para você pelo serviço dos sapatos. E me mostrou um cheque em suas mãos no valor de R$ 11.000,00 (onze mil cruzeiros). Hoje eu ainda tenho dúvidas quanto ao real valor da importância paga, se onze cruzeiros ou onze mil cruzeiros. Mas o principal é que o papai me disse: “Esse cheque é seu, para comprar o que você precisar”. E o serviço que você fez foi muito importante! Aliás, lembro de ter ficado a forte imagem do valor daquele trabalho por mim executado, no sentido de que muitas atividades eram da mesma forma, todas nobres. E que o trabalho deveria ser sempre exercido com dignidade e bem feito, para que a pessoa tenha sucesso na vida.

Sei que passados sessenta anos e eu aqui não poderia de deixar de mencionar para nossa família e para os amigos a importância da educação em casa com relação ao valor do trabalho. Pautei a minha vida inteira com base na mesma lição, aprendida em casa, de meu pai, e executada em inúmeras funções que por contingência da vida tive que executar, todas com muito gosto, como por exemplo: músico, fotógrafo, técnico em eletrônica, produtor musical, sonoplasta, oficial de inteligência, professor de informática no início da era tecnológica e escrevendo atualmente no Instituto Portal Messejana, no Blog do João Ribeiro, no qual faço registros de nossos bons momentos de vida e escrevo sobre temas variados.  

Muito obrigado, meu pai Alberto Ribeiro, por este exemplo e por esta grandiosa lição de vida!

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